sábado, 1 de novembro de 2014

Sucesso em pênaltis e seus fatores influenciadores

      Nem todos pênaltis batidos entram. Nem todos vão para fora. Nem todos são defendidos pelo goleiro. Muitos atribuem a chance do pênalti ser acertado ao preparo físico, outros à sorte, enquanto outros defendem a característica intrínseca à pessoa. Porém, há vários outros fatores que podem ser considerados.
      Vamos ao primeiro outro fator considerado: o formato do torneio. Como a amostragem é a diversificada (Séries A e B do Brasileirão 2013 e Copa do Brasil 2013), foram utilizados dois critérios: mata-mata (que é o formato da Copa do Brasil) e pontos corridos (que é o formato das séries A e B do Brasileirão). Em torneios de mata-mata, são dois jogos que definem a classificação do time, portanto cada gol tem importância maior, portanto o nervosismo é maior, a pressão é maior. Seria este um fator que realmente influencia? Veremos a seguir. No entanto, mesmo dentro dos torneios de mata-mata, existem dois tipos diferentes: o pênalti batido em tempo normal e o pênalti batido em disputas de pênaltis,que são situações diferentes e por isso devem ser diferenciadas. Vamos começar com essa estatística:
      Na Copa do Brasil de 2013 foram ao total 7 disputas de cobranças de pênaltis:
Fortaleza x Luziânia, na primeira fase
Arapongas x São Caetano, na primeira fase
Campinense x Sampaio Correa, na primeira fase
Guarani x Confiança, na primeira fase
ASA de Arapiraca x Ceará, na segunda fase
Figueirense x Botafogo, na terceira fase
Grêmio x Corinthians, nas quartas de final
      Após a contagem dos pênaltis anotados e processamentos dos dados temos os seguintes resultados:

Números quanto ao acerto de pênaltis e formato do campeonato

      Durante as séries de cobrança de pênaltis houveram 47 acertos de 72 tentativas (65,27% de acerto), 29 acertos de 40 nas outras cobranças em jogos de mata-mata (72,50% de acerto) e quantos aos pontos corridos, 133 convertidos de 164 tentado, um índice de acerto de 81,09%. Como podemos ver, indo de pontos corridos até às disputas por pênalti há uma tendência cada vez menor de acertar o gol, portanto podemos sim concluir que quanto mais "decisivo" for o jogo menor é a chance do jogador acertar a cobrança.
       O primeiro fator observado foi o formato do torneio pelo qual o time está jogando, pois este formato pode mudar completamente a classificação do campeonato com um mísero gol. A conclusão que foi tomada a partir dos últimos resultados é que a pressão psicológica influencia. Porém esta pressão pode vir de outras maneiras, sendo uma delas a agora considerada: a situação do time na hora da cobrança;
      Convenhamos, existe muito mais pressão para bater um pênalti num jogo que você está perdendo ou empatando para um em que você está goleando e o gol pouco vai influenciar, certo? Porém, até que ponto esta pressão realmente influi, realmente faz diferença? Essa postagem se dedica a explicar isto.
      A metodologia utilizada é a seguinte: é considerado como está o placar para o time BATEDOR do pênalti na hora do mesmo. Não importa o resultado final, nem o que veio em decorrência do pênalti, mas sim o resultado na hora dele ser marcado.
      Existem três situação possíveis no futebol: perder, empatar ou ganhar. Nada mais, portanto são as três únicas opções possíveis. Por mais que na prática uma vitória de 1x0 seja muito diferente de uma de 2x0, a mesma regra vale para a a derrota, o que acaba balanceando o fato do fator pressão influenciar de maneira diferente a cabeça do jogador.
      Quanto a disputas por pênaltis: nela, o jogo é zerado, passa a ser 0x0, portanto a situação da primeira cobrança é sempre empate. Caso o primeiro cobrador converta a cobrança, o placar passa a ser de 1x0 para o time que bateu primeiro, portanto, consta como derrota para o segundo batedor.
Os resultados resumidos se encontram aqui:

Números quanto ao acerto de pênaltis e situação momentânea da equipe - números totais
     Como notamos, é muito maior a tranquilidade, facilidade e índice de acerto do jogador que bate o pênalti sabendo que está perdendo ou empatando. Se destaca neste sentido a baixa eficiência dos cobradores de times que estão empatando, talvez isto sendo explicado pelo falto do empate muitas vezes significar indecisão da partida. Como certas vezes a derrota é "aceita" pelo time batedor - seja ela por placar elástico, má exibição, falta de confiança, etc. - o nível de pressão psicológica que o jogador exerce sobre si mesmo é menor que numa situação de empate, assim sendo uma possível explicação da disparidade nos números. Esta imagem acima não representa somente os pênalti marcados pelo juiz, mas também os de séries de pênaltis. A tabela-resumo dos pênalti marcados pela arbitragem é a seguinte:

Números quanto ao acerto de pênaltis e situação momentânea da equipe - números em tempo normal

      Não se vê grande diferença na comparação entre o quadro de comparação geral e só de tempo normal, só se notando uma leve diminuição na diferença entre batedores em situação momentânea de derrota e em situação de empate, além de mostrar o aumento da eficiência de batedores de times que estão vencendo. Também de chega à conclusão que o pênalti é estatisticamente mais provável de ser marcado enquanto os times estão empatando, com 48,03% dos pênaltis marcados nesse panorama, enquanto 27,45% são marcados para o time quando ele está perdendo e os restantes 24,50% para quando o time estiver ganhando. E a de pênaltis apenas em disputados é esta:

Número quanto ao acerto de pênaltis e situação momentânea da equipe - números em disputas de pênaltis

      Quanto a tabela exclusiva de disputas de pênaltis. percebemos que ainda sim há a maior chance de acertar o pênalti quando estiver perdendo em relação a quando estiver empatando, ainda que neste universo seja maior. Salta aos olhos a baixíssima eficiência dos batedores em situação momentânea de vitória, enquanto nas outras comparações esta é maior que a chance de acerto em outras situações. Esse valor baixo pode ser explicado devido a apenas terem sido feitas 8 cobranças, sendo a a amostra pequena demais, a qual pode causar distorções do resultado final.
      Dos outros fatores que podem ou não influenciar na sua chance de erro, este é o mais polêmico: a questão da camisa. É comum para pessoas que acompanham futebol com maior frequência ouvir o termo a camisa pesasó chegou onde chegou por causa da força da camisa (muito ouvi isso ao se referir ao Peñarol que fez a final da Libertadores 2011 com o Santos e com o Boca Juniors, que fez a final do mesmo torneio com o Corinthians em 2012). A expressão "jogador de time pequeno" também é comum para se referir a jogadores que não rendem quanto o esperado em times maiores porém vão bem em menores. Seria a mesma coisa para o jogador bater um pênalti vestindo a camisa do Flamengo e tudo que ela representa e bater um pênalti com a camisa de um time geralmente denominado como menor, por exemplo o São Caetano? E o contrário, também vale? O nível de dificuldade em bater um pênalti contra a camisa #1 do Grêmio que teve Manga, Leão, Mazaropi, Danrlei é o mesmo que bater um pênalti contra o River-PI?
     Para pesquisar a real influência disso, é preciso definir "quem tem mais" e "quem tem menos" camisa. É quase consenso que os doze maiores e mais vitoriosos clubes do país são: Grêmio, Internacional, Corinthians, Palmeiras, Santos, São Paulo, Botafogo, Flamengo, Fluminense, Atlético-MG e Cruzeiro. São comumente no Brasil chamados os times grandes, gigantes ou até G12, esta última sendo a nomenclatura que usarei. Como é difícil fazer uma lista de clubes do país por ordem de grandeza, os fatores definidos para análise foram: se o time batedor é do G12 e se o time que vai tentar defender o pênalti também é. A tabela final com os números ficou assim:

Números quanto ao acerto de pênaltis baseado no time que joga e que enfrenta

      Não se vê grande diferença na comparação entre o quadro de comparação geral e só de tempo normal, só se notando uma leve diminuição na diferença entre batedores em situação momentânea de derrota e em situação de empate, além de mostrar o aumento da eficiência de batedores de times que estão vencendo. Também de chega à conclusão que o pênalti é estatisticamente mais provável de ser marcado enquanto os times estão empatando, com 48,03% dos pênaltis marcados nesse panorama, enquanto 27,45% são marcados para o time quando ele está perdendo e os restantes 24,50% para quando o time estiver ganhando. E a de pênaltis apenas em disputados é esta:

Números quanto ao acerto de pênaltis baseado no fator casa - disputas por pênaltis 

Aí se nota um fenômeno interessante: apesar da pressão da torcida alheia, bater pênalti fora de casa é estatisticamente melhor. A tabela a seguir é apenas sobre os pênaltis cometidos em tempo normal - até para ajudar a ter ideia de quantos pênaltis são marcados para o time da casa e quantos contra.
Números quanto ao acerto de pênaltis baseado no fator casa - pênaltis em tempo normal

        Batedores jogando fora de casa ainda sim batem pênalti melhor que jogadores batendo em casa, com apoio da torcida, por incrível que pareça. Porém, neste universo de comparação nota-se que a diferença do índice de acertos é bem menor que nas disputais de penalidades. Também é interessante ressaltar que 65,68% dos pênaltis marcados foram para o time da casa - 91% a mais que para times de fora, número que pode ser explicado tanto pelos juízes caseiros como pelos times jogando em casa geralmente atacarem mais. A tabela final, composta dos dois universos, fica com os seguintes resultados:

Números quanto ao acerto de pênaltis baseado no fator casa - números totais

Devido ao fato da segunda amostragem (os pênaltis em tempo normal) ser um tanto maior que a primeira (só disputas de pênaltis), por mais que na primeira amostragem a diferenciação do índice de acerto entre os dois modelas seja de incríveis 12,23 p.p, num termo geral essa diferença cai para muito menores 1,85% de diferença. No entanto, estatisticamente falando é mais fácil converter um pênalti fora de casa do que em casa.
          Um dos grandes mitos do futebol brasileiro é que canhotos pênalti pior que destros. Sempre ouvi isto, ainda ouço. Em conversa com o jornalista Francisco Nepucemo, do site Futebol80 (outro EXCELENTE site, recomendo muito), ele também disse que a frase é bem antiga, disto concluí que é um pensamento bem enraizado no imaginário popular, inclusive na minha cabeça, sempre pensei nisto como verdade também, até resolver fazer a conta e ver até que ponto era verdadeiro isto. Já foi feita nesse blog uma postagem sobre o assunto, porém esta contém dados corrigidos em relação a versão anterior. Segue o resultado:

Números quanto ao acerto de pênaltis baseado no fator pé do batedor

         Os números desmentem o mito: ao contrário da teoria geral, canhotos têm aproveitamento maior que destros em relação a pênaltis. Como pode ser visto na postagem anterior (Canhotos e Pênaltis), esta superioridade se dá tanto no Campeonato Brasileiro da Série A, como da Série B e como da Copa do Brasil. Como estatística final: foram marcados, nos campeonatos usados como amostragem, 276 pênaltis. 209 foram acertados, isso dá uma taxa de acerto de 75,72%. Em termos redondos, a cada 4 pênaltis batidos, 3 são convertidos e 1 é desperdiçado.

         Alguma sugestão? Dúvida? Reclamação? Algum número que interpretei errado, algum dado que utilizei errado? Favor avisar na caixa de mensagens. Quem quiser a lista de pênaltis batidos e suas circunstâncias também só deixar o email ali que mando arquivo. Abraços.