segunda-feira, 25 de maio de 2015

História das Eliminatórias - Copa de 1962 - Parte 1

Já estamos no sexto texto sobre as eliminatórias das Copas do Mundo já disputadas, esta será a primeira parte. O primeiro, que pode ser acessando clicando aqui, é sobre a Copa de 1934, o segundo, que você vê ao clicar aqui, é sobra a Copa de 1938 e o terceiro, que você pode ler ao clicar aqui, é sobre a Copa de 1950, no Brasil, o quarto, que está aqui é sobra a Copa de 1954, na Suíça. Sobre a Copa de 1958, a primeira vencida pelo Brasil, este link vai te redirecionar para o texto correto. É recomendado que sejam lidos todos os textos anteriores afim de melhor entendimento do torneio, seu contexto histórico e resultados passados.
Em 1962, a polêmica começa na definição do país sede. Após duas Copas seguidas serem realizadas na Europa (Suíça e Suécia, respectivamente), os americanos se revoltam e exigem que a Copa ou seria realizada na América do Sul ou não teria participação de americanos. A candidata favorita a sediar era a Argentina, que tinha um sonho antigo de ser anfitriã da competição. No entanto, o Chile aparece como candidato também, e acaba ganhando na eleição por 32 a 13, com 13 abstenções. Portanto o Chile é o segundo classificado (o primeiro é o Brasil, campeão da edição anterior.
Outro ponto que precisa ser entendido para a melhor compreensão do torneio é sobre a África. Quem tiver lido as postagens anteriores sobre as eliminatórias, pode ver que a África sempre teve muitos poucos representantes disputando as eliminatórias. No entanto, hoje a África conta com várias dezenas de países. Por que isto? A resposta é bem simples: praticamente não haviam países africanos independentes, o período de descolonização ainda estava engatinhando. Porém, isto começa a mudar na década de 50.
Até a Copa de 1958, havia apenas 9 países africanos independentes: Libéria, África do Sul, Egito, Etiópia, Líbia, Sudão, Tunísia, Marrocos e Gana. Após a Copa de 1958, revoluções e movimentos de independência pipocam no continente todo. Entre a Copa de 1962 e a anterior, ficam independentes: Guiné, Camarões, Togo, Mali, Senegal, República Malagasy (que viria a se tornar Madagascar), República do Congo (o antigo Congo Belga, que viria a se tornar Zaire e hoje se chama República Democrática do Congo), Somália, República do Dahoney (hoje chamado de Benin), Niger, República de Upper Volta (hoje se chama Burkina Faso), Costa do Marfim, Chade, República Centro Africana, República do Congo (de possessão francesa, hoje tem o mesmo nome), Gabão, Nigéria, Mauritânia, Serra Leoa e Tanganyka (que viria a se unir com a ilha de Zanzibar, onde nasceu o ex-cantor do Queen Freddie Mercury, para formar a Tanzânia. 20 países formados em apenas 4 anos. Com o passar do tempo, viriam a ser cada vez mais países disputando as eliminatórias por vagas na fase final da competição.
As eliminatórias europeias foram divididas em 10 grupos. O grupo 1, que continha as duas anfitriãs das Copas anteriores (Suíça e Suécia) e a Bélgica, tinha como regulamento todos jogando entre si em ida e volta, valendo uma só vaga para a fase final. O grupo é aberto pela Suécia vencendo a Bélgica em Estocolmo por 2x0. Seguem duas derrotas belgas para a Suíça, eliminando a equipe de Claessen e Van Himst. Os suecos goleiam os suíços por 4x0, empatando em pontos. Novamente, os escandinavos vencem, desta vez a já eliminada Bélgica em Bruxelas.
O jogo programado para ser o jogo final foi no domingo de 29 de outubro de 1961, em Berna, Suíça, contra a Suécia. Os donos da casa precisavam vencer para passar de fase, com os suecos bastando um empate. E os escandinavos saem na frente, com gol de Simonsson, que marcou contra o Brasil na final da Copa anterior. Isto aconteceu logo cedo, aos 2 minutos, com o histórico jogador suíço Charles Antenen empatando 6 minutos depois. Muitos minutos de jogo tenso, até, aos 23 do segundo tempo, Wüthrich virar o jogo. Aos 34 do segundo tempo, Ingve Brodd, artilheiro sueco nas eliminatórias, a época jogando no clube francês, Toulouse, faz gol e empata, dando momentaneamente a vaga para os suecos. Mas aos 36 do segundo tempo, o franco-suíço Norbert Eschmann marca, dando a vitória para os suíços, o que causaria empata em pontos e a necessidade de um jogo desempate. Duas semanas depois, se enfrentam na então Berlim Ocidental valendo a vaga. Brodd inaugurou o placar do jogo mas no segundo tempo Schneiter e Antenen, até hoje herói suíço, viram o placar da partida e garantem a vaga, para a festa da torcida em Berna, Zurique e demais localidades.
O grupo 2 tinha as mesmas regras, porém seus participantes eram França, a fraca Finlândia e a Bulgária. Dos 4 primeiros jogos do grupo, 3 envolviam a França (que venceu todos), que tinha da Copa anterior Piantoni entre outros e 3 envolviam a Finlândia (que perdeu todos e foi eliminada). Os búlgaros, que tinham vencido os finlandeses e perdido para os franceses, vencem novamente os finlandeses e partem para o jogo final em Sofia, precisando vencer, contra os então líderes franceses. Para os francos bastava um empate, que ocorria até os 44 do segundo tempo. Então o búlgaro Iliev, que já havia marcado um gol nas eliminatórias, contra a Finlândia, em Helsinki desempata – garantindo a vitória búlgara e um jogo desempate. Este seria realizado em Milão, na Itália. Nele, o búlgaro Yakimov, que recebe a bola na frente da área, manda um chute forte que bate na trave direita do goleiro e entra. Yakimov, ídolo de infância do maior jogador búlgaro da história, Stoichkov, é até hoje considerado entre os búlgaros “O Poeta do Futebol” por este gol e pela sua participação decisiva no gol que levaria os búlgaros para a Copa em 1966.

Já o terceiro grupo foi bem menos disputado. Havia nele as insossas Irlanda do Norte, que apesar de ainda ter Blanchflower, Gregg e McParland não era mais o mesmo time de outrora, Grécia e a forte Alemanha Ocidental, que contava com um já relativamente famoso Uwe Seeler e com os jovens Helmut Haller e Karl-Heinz Schnellinger. Esses dois últimos, por motivos diferentes, acabariam por escrever seus nomes na história do futebol mundial. Dentro de campo, a Alemanha não teve dificuldade. Estreou com duas vitórias fora de casa, 4x3 contra a Irlanda do Norte e 3x0 contra a Grécia. Nos dois jogos, quem marcou 3 gols foi o então atacante do Hamburgo, Gert Dörfel. Segue abaixo uma foto dele para melhor identificação:

Gert Dörfel
         Sim. Esse mesmo. Depois de se aposentar como jogador de futebol, Dörfel virou palhaço no famoso Circus Krone, um dos maiores circos da Europa. Após estes dois jogos, a Grécia vence os irlandeses por 2x1 com dois gols de Papaemmanouil e se mantém viva. Os irlandeses então visitam os alemães, precisando vencer para ter chance de se classificar, no entanto perdem novamente por 2x1, sendo eliminados. Os gregos, que precisavam vencer para se manter na disputa, visitam os já eliminados e perdem, selando a classificação alemã. Os gregos ainda jogam, somente para cumprir tabela, um jogo contra a Alemanha Ocidental em Augsburg, em que brilha a estrela de Uwe Seeler, que marca dois gols e garante 100% de aproveitamento para os alemães.
No grupo 4, que tinha o mesmo regulamento, participavam Hungria, Holanda e Alemanha Oriental. A grande favorita era a Hungria, que além de ainda ter o goleiro Grosics dos Magiares Mágicos, tinha o já veterano Károly Sandor, Lajos Tichy em grande fase e estava surgindo na seleção o jovem Flórián Albert, que viria a se tornar o maior jogador húngaro pós-54. Os húngaros começaram vencendo os alemães orientais em Budapeste e em seguida os holandeses em Roterdã, praticamente selando a classificação. Os alemães orientais empatam em casa com os holandeses para depois perderem em casa para os húngaros, que se classificam. Em 1 de outubro de 1961, deveria acontecer Holanda x Alemanha Oriental na Holanda, porém os alemães foram proibidos de entrar no país devido a problemas com visto. Como os húngaros já estavam classificados, o jogo, que não valeria nada, não foi remarcado. O último jogo do grupo, para cumprir tabela, foi um eletrizante Hungria 3x3 Holanda em Budapeste.
Grupo 5: mesmo regulamento dos anteriores, porém com a União Soviética, Turquia e Noruega. O resultado foi um massacre soviético, com tinha em seu escrete o grande Valery Voronin: 4 vitórias em 4 jogos, com 8 gols de saldo. Os turcos conseguem vencer as duas contra os noruegueses, que são eliminados sem um ponto sequer.
O sexto grupo, que também tinha o mesmo formato e regras dos anteriores, tinha Inglaterra, de Bobby Charlton, Jimmy Greaves, Ray Wilson e Bobby Robson, Portugal, de José Águas, o grande Mário Coluna e o gigante Eusébio, que viria a ser artilheiro da Copa de 1966 e um dos maiores jogadores da história, todos treinados pelo lendário Peyroteo (apenas nos dois últimos jogos). Peyroteo se tornou famoso no fim da década de 30 e na década de 40 por ser o grande craque do clube português Sporting. Durante seu período no clube, Peyroteo teve a incrível média de 1,61 gols por jogo. Marcou 531 gols em 328 jogos. Tudo começa normal: Luxemburgo sendo Luxemburgo e só perdendo. Toma 9x0 em casa, com hat trick de Greaves e de Charlton, para depois perder para Portugal por 6x0 em Lisboa. No jogo mais esperado, Portugal e Inglaterra em Lisboa, 1x1 com gols de Águas para os lusos e Flowers para os britânicos. Os britânicos seguem para Londres, onde vencem os luxemburgueses por 4x1.
Então chega a vez de Portugal enfrentar Luxemburgo como visitante. Jogo que entraria para a história por 2 motivos: o primeiro, foi o primeiro jogo de Eusébio com a camisa da seleção portuguesa, inclusive tendo marcado um gol. Segundo motivo: o esperado era um massacre português. Porém, dentro de campo não foi bem assim. O até então desconhecido meia luxemburguês Ady Schmit, do clube local Fola Esch, comanda a vitória do país natal por históricos 4x2, primeira vitória da seleção local em Copas. Perplexos e já eliminados, os lusos perdem para os ingleses por 2x0 em Londres, num jogo apenas para cumprir tabela.
O próximo grupo era diferente de todos: contava com 5 times, e apesar de fazer parte das eliminatórios europeias havia times da Europa, Ásia e África. Começa numa fase preliminar: se enfrentam, em ida e volta, Israel e Chipre. O vencedor pegaria a Etiópia, que foi autorizada a jogar as eliminatórias pelo Europa. O vencedor deste segundo confronto enfrentaria o vencedor de Romênia x Itália. Os dois times vencedores fariam uma final entre si. Israel empata com o Chipre em 1x1 em Nicósia e na volta, em Tel-Aviv, comandada por Shlomo Levi, autor de um hat trick, goleia por 6x1 e garante sua disputa contra a Etiópia. Quem se destaca contra os africanos é Yehoshua Glazer, que marca o gol único da partida de ida e mais dois no 3x2 para os israelenses na volta – ambas as partidas jogadas em solo israelense.
No outro lado das “semifinais”, não houve jogo, pois, a Romênia desistiu, com a Itália avançando para a final contra Israel. O elenco italiano contava com um campeão do mundo: José Altafini, vulgo Mazzola, campeão da Copa do Mundo de 1958 pelo Brasil. O apelido Mazzola era por causa da semelhança física com o cérebro do grande time do Torino nos anos 40, Valentino Mazzola. Contava com outro grande craque naturalizado: Omar Sívori. Argentino de nascimento, fez sucesso no país natal pelo River Plate e daí rumou para a Juventus da Itália, clube do qual se tornou um dos maiores ídolos. Também contava com outros jogadores de destaque: Giovanni Trapattoni, que viria a ser grande ídolo do Milan e um dos maiores técnicos da história da Juventus, do futebol italiano e do futebol mundial, Cesare Maldini, grande zagueiro da história do Milan e pai do ídolo italiano Paolo Maldini, além do goleiro Buffon. Este é Lorenzo Buffon, primo do avô do atual goleiro Gianluigi Buffon. Com todos esses grandes jogadores, o esperado era uma vitória italiano. E ela veio.
         Em Tel-Aviv, na ida, os Israelenses vão para o intervalo com uma vantagem de 2 gols, marcados por Stelmach e Young. Aos 8 minutos da segunda etapa Lojacono diminui de pênalti. Mazzola empata aos 34 do segundo. Aos 42, Corso vira a partida e o mesmo Corso marca o quarto gol aos 45 do segundo tempo. Na volta, em Turim, no estádio Olímpico, casa do Torino (apesar do estádio ser municipal), a Itália goleia por 6x0, comandada por Omar Sívori, ídolo dos rivais dos donos da casa, que marcou 4 gols e selou a classificação italiana para Copa.
         De volta ao formato antigo: 3 times, uma vaga, ida e volta. Desta vez, a vaga era disputada por Irlanda, Escócia e Tchecoslováquia. Os irlandeses, sem muitos destaques, sofrem duas pesadas derrotas para a Escócia – 4x1 em Glasgow e 3x0 em Dublin – e ficam quase eliminados. Dentre os destaques escoceses, estava Denis Law, então jogador do Torino, depois vindo a fazer muito sucesso no Manchester United. No primeiro jogo entre os tchecoslovacos e escoceses, em Bratislava, os donos da casa goleiam os britânicos por 4x0, dando esperança para os irlandeses. Não foi uma derrota a toa, os tchecoslovacos contavam com seu maior time da história, com jogadores como o goleiro Schrojf, os defensores Tichý, Pluskal, Popluhár, Scherer no ataque e no meio o que viria a ser o melhor jogador da Europa: Josef Masopust.
A volta, em Glasgow, foi numa terça, 26 de setembro de 1961. 51590 pessoas compareceram ao estádio para prestigiar o que viria a ser um jogão de bola. Kvašňák abre o placar para os então comunistas tchecoslovacos, Ian St. John, atacante do Liverpool, empata para os escoceses. Aos 6 do segundo tempo, Scherer deixa os visitantes novamente na frente. A Irlanda, que precisava de uma derrota de seus vizinhos britânicos para ter chances de seguir, comemora. No entanto, brilhou a estrela do craque: Denis Law. 11 minutos depois de ver seu time começar a perder, ele empata a partida. E novamente, desta vez faltando 7 minutos para o fim do jogo, marca. Dá a vitória para os escoceses. Este resultado elimina os irlandeses. E força os eslavos a ganharem as duas partidas contra os já eliminados para terem chance de disputar a fase final da Copa. E é o que acontece: comandados por Kvašňák e Scherer, vencem por 3x1 em Dublin e massacram em Praga: 7x1 (foi pouco).

Como houve empate em pontos, a decisão partiu para o jogo desempate em campo neutro. Seria no estádio Rei Bauduíno (popularmente conhecido como Estádio de Heysel), em Bruxelas. Acabaria por ser outro jogo para entrar na história. Quem saiu na frente foram, desta vez, os escoceses. Ian St. John, pouco antes do intervalo, deixa o seu. Tudo segue igual até os 25 minutos do segundo tempo, quando Hledík empata. Nem deu tempo da torcida eslava comemorar, um minuto depois, St. John faz 2x1. O jogo pega fogo. 9 minutos depois, aos 35, Scherer empata. Temos prorrogação. Aos 6 minutos do primeiro tempo dela, Pospíchal põe os tchecoslovacos na frente. 5 minutos depois, Kvašňák deixa o seu. Após minutos de muita pressão, o jogo termina. A vaga é da Tchecoslováquia.

sexta-feira, 22 de maio de 2015

História das Eliminatórias - Copa de 1958

Chegamos ao queinto texto sobre as eliminatórias das Copas do Mundo já disputadas. O primeiro, que pode ser acessando clicando aqui, é sobre a Copa de 1934, o segundo, que você vê ao clicar aqui, é sobra a Copa de 1938 e o terceiro, que você pode ler ao clicar aqui, é sobre a Copa de 1950, no Brasil, o quarto, que está aqui é sobra a Copa de 1954, na Suíça. É recomendado que sejam lidos todos os textos anteriores afim de melhor entendimento do torneio, seu contexto histórico e resultados passados.
Nas eliminatórias para a Copa de 1954 já podemos notar um grande avanço quanto à organização de regras, mas para a Copa de 1958 o avanço foi maior ainda. Ainda que tendo melhorado, quando perceberam que era a maior zona, algo poderia ser feito. Dois países foram classificados automaticamente: a Alemanha Ocidental, campeão da Copa anterior e a Suécia, país-sede. Foram definidas 3 vagas para a América do Sul, 1 para a América do Norte e Central, 11 para a Europa e 1 para a África e Ásia. Time se classificarem sem jogar devido a desistência de adversários era algo que era comum nas eliminatórias anteriores, então a FIFA decidiu impor uma regra: todo os times teriam que ter jogado pelo menos um jogo para se classificar. Regra essa que se tornou muito importante, como veremos a seguir.
O primeiro grupo da UEFA era composto por Inglaterra, Irlanda e Dinamarca. O regulamento dele, tal qual dos outros grupos da UEFA era o seguinte: todos se enfrentavam em ida e volta. O melhor de cada grupo passava. Os escandinavos foram muito mal, perdendo todos os jogos. Já a Irlanda, começou mais ou menos. Venceu a Dinamarca, mas foi goleada pela Inglaterra em Londres, 5x1, para empatar em 1x1 da volta em Dublin. Empate este que selou a classificação inglesa à Copa.
Islândia, França e Bélgica disputavam uma vaga no segundo grupo. Como era esperado, a Islândia foi terrível. Perdeu todas tomando incríveis 26 gols - uma média de 6,5 gols tomados por jogo. A França, que além do franco-polonês Cisowski se mostrar um artilheiro nato, contava com Piantoni, Kopa e Fontaine. Na estreia, venceu a Bélgica por 6x3, 5 gols de Cisowski. Faz 8x0 e 5x1 na Islândia. Como a Bélgica também venceu os dois jogos contra a Islândia, ainda não estava definido. Os franceses, com 6 pontos, contra 4 pontos dos belgas. Com uma simples vitória em Bruxelas, a Bélgica levava a França para o desempate pela vaga. Porém, os franceses conseguem segurar o ímpeto dos belgas e se classificam depois de um 0x0.
Agora já não com critérios político-ideológicos, caem no mesmo grupo Hungria, Bulgária e Noruega. A Hungria, que havia encantado o mundo na Copa de 1954 não era a mesma. Boa parte dos jogadores da seleção que foi vice-campeão era do Honvéd, de Budapeste. O Honved, campeão do Campeonato Húngaro de 1955, se classificou para a Copa Europeia de 1956-57 (atual liga dos campeões), enfrentou o Athletic de Bilbao na primeira fase, perdendo por 3x2. Antes de voltar para casa, explode a Revolução Húngara. Um movimento húngaro por reformas no regime vigente e crítico aos desmandos soviéticos no país. Os soviéticos, governados na época por Nikita Khrushchev, mandam tropas para a Hungria e reprimem o movimento. Com isto, os atletas do Honved decidiram não voltar à Hungria, e jogaram o jogo de volta em Bruxelas, perdendo por 3x2 novamente. E agora? Ficaram dois anos fazendo amistosos pelo mundo para se sustentarem. Kocsis e Czibor rumam para o Barcelona. Púskas para o Real Madri. Hidegkuti e Bozsik decidem voltar e não são considerados traidores enquanto Puskas, Kocsis e Czibor são. São banidos do país e devido a fortíssima ligação entre política e futebol na Hungria, nunca mais foram convocados para a seleção, passando décadas sem nem voltar ao país natal. Com isto, a Hungria havia perdido grande parte do seu poder. Com isto, começa a ter mais espaço um que depois seria lembrado como um dos grandes jogadores húngaros: Lajos Tichy.
No primeiro turno, a Noruega joga as duas em casa. Perde por 2x1 para os búlgaros e vence pelo mesmo placar os húngaros (com o gol de honra húngaro sendo marcado por Tichy). No confronto em Budapeste, Ferenc Machos dá show, marca 3 gols e a Hungria vence por 4x1. Até então o grupo está muito equilibrado, com todos os times empatados com 2 pontos. No primeiro jogo do returno, em Sofia, capital búlgara, a Hungria vence por 2 gols de Hidegkuti e se isola. Novamente em Sofia, a Bulgária desta vez vence a Noruega por 7x0 e empata em pontos com os húngaros. Em 10 de novembro de 1957, os húngaros entram em campo em Budapeste contra a Noruega, precisando de apenas um empate para confirmar a vaga. Fazem 5x0 e estão classificados.
Tchecoslováquia, País de Gales e Alemanha Oriental fazem parte do quarto grupo. Gales começa jogando 3 jogos seguidos, uma vitória contra a Tchecoslováquia em Cardiff e duas derrotas fora. Após estes jogos, os tchecoslovacos vencem os alemães orientais por 3x1. Os alemães orientais também perdem por 4x1 para País de Gales, sendo eliminados. Em Leipzig, Alemanha Oriental, os germânicos também perdem para a Tchecoslováquia, que é classificada com esse resultado.
 O quinto grupo é formado por Áustria, Holanda e Luxemburgo. Este último estreia perdendo tanto para Áustria como para Holanda. Os austríacos vencem os holandeses em Viena por 3x2 num jogaço, que foi para o intervalo com 2x0 para os holandeses e teve gol de desempate aos 44 do segundo tempo. No jogo de volta, em Amsterdã, os países empatam em 0x0, sobrando para a Áustria a classificação com empate ou vitória contra Luxemburgo. E o eterno saco de pancadas dos europeus toma 3x0 dos austríacos, classificando os mesmos para a fase final da Copa.
No sexto grupo, que continha URSS, Polônia e Finlândia, foi necessário um desempate. A Finlândia perdeu todos os jogos, inclusive tomando 10x0 em casa dos soviéticos. Como houve empate em pontos de URSS e Polônia, partiram para um jogo desempate em Leipzig, na Alemanha Oriental. Strelstov e Fedosov marcaram os dois gols da vitória soviética, classificando o país à fase final da Copa.
Seguindo o padrão de dois clubes do bloco soviético e um de fora o grupo, o sétimo grupo contava com Iugoslávia, Romênia e Grécia. Os helênicos, que estrearam com um empate contra a Iugoslávia em casa, perderam todos os jogos em seguida e não apresentaram perigo. A verdadeira disputa seria entre Romênia e Iugoslávia. No turno, empatam por 1x1 em Bucareste. Como a Iugoslávia havia empatado com Grécia e Romênia havia ganho as duas, os romenos foram com a vantagem do empate para o confronto final. 17 de novembro de 1957, em Belgrado, a Iugoslávia, precisando vencer, enfrenta a Romênia valendo a vaga do grupo. Com dois gols de Milutinovic, os balcânicos passam de fase e a torcida local faz a festa.
O oitavo grupo contou com um dos jogos mais marcantes da história das eliminatórios. Os membros do grupo eram Portugal, Itália e Irlanda do Norte. Os irlandeses, de Danny Blanchflower começam mal, com empate em 1x1 com os lusos e uma derrota por 1x0 para os italianos. Na volta, fazem 3x0 em Portugal em Belfast, placar repetido em Portugal x Itália em Lisboa. Portugal, tal qual Irlanda do Norte, tinham 3 pontos, contra 2 dos italianos. No dia 4 de dezembro ocorre um jogo histórico: Irlanda do Norte x Itália, em Belfast. O árbitro, um húngaro chamado Istvan Zolt, vinha de Londres para Belfast, porém a constante neblina na capital britânica impediu que ele chegasse a tempo. Com isto, o jogo era adiado.
Mas quem tá na chuva é pra se molhar, certo? Os dois times decidiram jogar mesmo assim, porém como um amistoso, sem valor algum. O jogo termina num 2x2 em que jogadores italianos foram muito violentos. Isto, aliado ao stress causado pelo atraso do jogo, fez com que a torcida invadisse o campo. O jogo é até hoje conhecido como a Batalha de Belfast. A Itália devolve os 3x0 dos portugueses, eliminando-os e ficando líder, com 4 pontos contra 3 dos irlandeses. Porém, não se deve esquecer que havia o jogo remarcado. Em 15 de janeiro de 1958, os norte-irlandeses vencem os italianos por 2x1 (com o gol de honra italiano sendo marcado pelo ítalo-brasileiro Dino da Costa, de breve sucesso no Botafogo) e se classificam. Até hoje, foi a única vez que a Itália não se classificou para a Copa.
Eram 9 grupos de times europeus. O nono e último era de Espanha, Escócia e Suíça. A Suíça, que contava com Hügi, não foi bem e conseguiu apenas um ponto, referente a um empate com a Espanha em Madri. Os espanhóis, que tinham em seu elenco Kubala, Luis Suárez e Di Stéfano, vencem o jogo de volta contra a Suíça (que seria o último do grupo, não valendo nada) e perdem uma das partidas contra a Escócia, que vence a outra. Como a Escócia havia vencido a Suíça na ida, a sua vitória contra os suíços na volta já significou a sua classificação.
Começo então a escrever sobre as eliminatórias sulamericanas. O grupo 1 continha Brasil, Venezuela (que desistira antes de jogar) e Peru, Com um empate em Lima e uma vitória pelo placar mínimo com gol do Príncipe Etíope Didi, o Brasil garantia a sua vaga.
O segundo grupo sulamericano tinha Argentina, Bolívia e Chile. Este último estrearia com vitória: sua única neste mundial. Bolívia e Argentina venceram duas partidas cada uma e foram para o último jogo, em Buenos Aires, valendo a vaga. Goleada argentina por 4x0, que ficou com a vaga.
Já o terceiro e último grupo dos sulamericanos tinha Uruguai, Colômbia e Paraguai. A Colômbia estreia com empate em casa contra o Uruguai (que ainda continha Míguez, campeão da Copa de 1950). Seria seu único ponto, pois perdeu todos os outros jogos. Este ponto conquistado pelos colombianos - na verdade o ponto uruguaio roubado com o empate - faria toda a diferença. O Uruguai passou de fase com 6 pontos, contra 5 do Uruguai, que foi eliminado.
As eliminatórias centro e norte americanas tinham outro formato. Dois grupos: o grupo 1, com México, EUA e Canadá e o grupo 2, com Costa Rica, Guatemala e o Território de Curaçao (parte da Holanda). No primeiro grupo, o México ganhou com muita folga: 4 vitórias em 4 jogos, 18 gols pró e 2 gols contra. O pior foi os EUA, perdendo todos os jogos e tomando 21 gols. O Canadá perdeu os dois conta o México e ganhou os dois dos EUA, ficando no meio da tabela. No segundo grupo ocorrem alguns fatos curiosos. A Costa Rica ganhou com folga, mas é de se destacar que no seu segundo jogo contra a Guatemala, os guatemaltecos, então perdendo por 3x1, abandonaram o campo. O último jogo, Território de Curaçao x Guatemala não aconteceu pois os jogadores guatemaltecas não ganharam o visto para poder jogar o jogo em território então holandês. No entanto, o jogo seria apenas para cumprir tabela. Os campeões de cada grupo jogaram duas finais entre si. A ida vencida pelo México por 2x0 e a volta empatada em 1x1, com a vaga conquistada pelos mexicanos.
Há apenas mais uma vaga para ser disputada: a da África e Ásia. Começa na rodada preliminar. República da China (Taiwan) x Indonésia. Os taiwaneses desistem e a Indonésia parte para o grupo 1, com Austrália e China continental (conhecida somente como China). Os australianos desistem. Já os indonésios, liderados tecnicamente por Rusli Ramang, vencem a ida contra os chineses por 2x0, perdem por 4x3 na volta em Pequim e partem para um jogo desempate, em Rangoom. na Birmânia (atual Myanmar). Empatam em 0x0, com a Indonésia passando por melhor goal average. O grupo 2 continha Israel e Turquia. Os turcos se recusaram jogar com os países asiáticos, e com isto Israel passa. O Grupo 3 tinha Egito e Chipre, Chipre se retira e Egito passa. Já no quarto grupo, não há desistência. Sudão e Síria se enfrentam primeiro em Cartum e na volta em Damasco. Vitória sudanesa por 1x0 e 1x1 em Damasco - os dois gols do país africano foram de El Din Osman.
A segunda fase das eliminatórias asiática conta com o campeão de cada grupo, ou seja, Indonésia, Egito, Sudão e Israel. Egito e Indonésia, países de maioria muçulmana, por solidariedade à causa palestina, se recusam a jogar com Israel. A Indonésia diz até aceitar, mas somente se em campo neutro, pedido não atendido, com Israel e Sudão classificados para a terceira e última fase. O Sudão então se recusa a enfrentar Israel, que seria a qualificada. Mas espera aí: lembra que a FIFA dizia que todo país tinha que ao menos enfrentar algum time? Os israelenses não enfrentaram ninguém, portanto foi decidido o seguinte: foi sorteado um segundo colocado de algum grupo das eliminatórias europeias para enfrentar Israel em ida e volta. A Bélgica, sorteada, prefere não jogar, sobra para País de Gales vencer os asiáticos por 2x0 duas vezes - em Tel Aviv e em Cardiff.
Com tudo isto, os classificados são Argentina, Áustria, Brasil, Tchecoslováquia, Inglaterra, França, Hungria, México, Irlanda do Norte, Paraguai, Suécia, Escócia, URSS, País de Gales (única vez que as 4 nações constituintes do Reino Unido jogaram a fase final da Copa), Alemanha Ocidental e Iugoslávia. 55 inscrições foram feitas. 2 foram rejeitadas (Etiópia e Coréia do Sul). 5 times desistiram (Venezuela, Taiwan, Chipre, Egito e Turquia). 46 times jogaram pelo menos uma partida. 89 partidas foram jogadas e 341 gols feitos, uma média de 3,83 gols por jogo. Foi a primeira vez que Argentina, Bolívia, Canadá, China, Costa Rica, Antilhas Holandesas, Chipre, Dinamarca, Alemanha Ocidental, Alemanha Oriental, Guatemala, Islândia, Indonésia, Peru, União Soviética, Sudão e Uruguai disputaram algum jogo de eliminatórias.

quinta-feira, 21 de maio de 2015

História das Eliminatórias - Copa de 1954

Este é o quarto texto sobre as eliminatórias das Copas do Mundo já disputadas. O primeiro, que pode ser acessando clicando aqui, é sobre a Copa de 1934, o segundo, que você vê ao clicar aqui, é sobra a Copa de 1938 e o terceiro, que você pode ler ao clicar aqui, é sobre a Copa de 1950, no Brasil. É recomendado que sejam lidos todos os textos anteriores afim de melhor entendimento do torneio, seu contexto histórico e resultados passados.
Para esta copa, é notada uma organização muito maior, menos times desistindo. Dois times já estavam classificados: a Suíça, país sede, e o Uruguai campeão no famoso Maracanazzo. Os regulamentos de quase todos os grupos são uniformizados, com 3 times por grupo, se enfrentado em ida e volta, cada um valendo uma vaga. 
O primeiro grupo era formado por Alemanha Ocidental (agora com uma federação própria, separada da Alemanha Oriental), Noruega e protetorado do Sarre. Você deve estar se perguntando: Sarre? Quem? Bom, como parte da partição da Alemanha, um pedaço pequeno passou a ser protetorado francês, onde hoje temos o estado do Sarre, cuja capital é Saarbrücken. A Alemanha consegue a vaga, ganhando os dois jogos contra o Sarre, empatando um e ganhando o outro contra a Noruega. O Sarre consegue um segundo lugar, vencendo uma contra a Noruega e empatando a outra. Os escandinavos, pouco tradicionais no futebol, ficam na lanterna sem uma vitória sequer.
O segundo grupo, também feito de maneira política (tentava se separar os países do Bloco Soviético dos demais europeus), contava com Bélgica, Suécia e Finlândia. A Bélgica ficou líder sem grandes dificuldades. Venceu seus dois jogos fora, empatou em casa com a Finlândia e no último jogo, em casa contra os suecos, venceu por 2x0. A Suécia, que estreia levando 3x2 dos belgas, faz 4x0 e 3x3 contra os vizinhos finlandeses (em casa e fora, respescticamente), porém no último jogo, com os belgas, valendo vaga, perde e fica em segundo lugar.
Já relativo às nações britânicas, no grupo 3, foi repetido o critério da edição anterior da Copa, foi aproveitado o British Home Championship. Nele, a Inglaterra é avassaladora. Vitórias de 4x1 contra Gales em Cardiff, 3x1 com a Irlanda do Norte em Liverpool e 4x2 na Escócia em Glasgow. A Escócia fica com o segundo lugar – e decide aceitar a vaga. Estreia com uma importantíssima vitória contra a Irlanda do Norte em Belfast, empata em casa com País de Gales (do Gigante Buono John Charles) num eletrizante 3x3 com um gol salvador do mesmo aos 43 do segundo tempo. É o único ponto dos galeses na competição, que perdem todos os outros jogos. Já os norte-irlandeses conseguem uma vitória de honra contra os galeses, 2x1 em Wrexham, no País de Gales, com dois gols de Peter McParland – um dos maiores senão o maior jogador da história dos irlandeses.
O quarto grupo é composto de França, Irlanda e Luxemburgo. Luxemburgo, como sempre, é o saco de pancadas e perde todos os jogos, marcando um gol e sofrendo 19. A Irlanda vence as duas contra Luxemburgo e perde as duas contra os franceses. Estes, com 100% de aproveitamento, marcam incríveis 20 gols nos seus 4 jogos. Começava a desabrochar o talento dos craques Piantoni, Kopa e Fontaine. O jogo em Paris contra os luxemburgueses é uma sova, 8x0 com hat trick de Fontaine, que na próxima Copa viria a marcar 13 gols em 6 jogos e escrever seu nome na história do futebol.
Já no próximo grupo, o quinto, se enfrentariam a Áustria – que viria a ser um dos grandes times desta edição da Copa – e Portugal. Na ida, em Viena, Probst marca cinco gols e comanda a goleada austríaca – que termina em 9x1, com um gol também dos grandes Ocwrik, Wagner, de Dienst e um de pênalti de Ernst Happel, que depois viria a se tornar um dos maiores treinadores da história do futebol. Na volta, um 0x0 garante os germânicos na Copa.
No sexto grupo houve uma situação curiosíssima: se enfrentariam Espanha e Turquia. Não havia salde de gols, com os espanhóis tendo goleado por 4x1 na ida e perdido por 1x0 na volta, em Istambul. É marcado um jogo extra, em terreno neutro – no caso, o Estádio Olímpico de Roma – que após a Turquia estar vencendo por 2x1 até os 33 do segundo tempo, vira um 2x2 com o gol espanhol de Escudero. Com o empate, como seria decidida a vaga? Sorteio. Isso mesmo, uma vaga na Copa do Mundo sendo decidida por sorteio. Um menino romano de 14 anos chamado Luigi Frango Gemma, cujo pai trabalha no estádio teve seus olhos vendados. Eram dois papéis, um escrito Turquia e um Espanha. O menino pega o da Turquia, que está classificada.
O sétimo grupo continha originalmente Hungria, Polônia e Alemanha Oriental. Em 1953 trabalhadores da construção civil da então Berlim Oriental decidem entrar em greve, e em resposta são duramente reprimidos pela força nacional local, a Volkspolizei e pelas tropas soviéticas. Essa instabilidade faz com que os alemães orientais prefiram não jogar a Copa. Fariam bem. A Polônia acaba desistindo, e a Hungria, vivendo a geração dos Magiáres Mágicos, de Púskas, Kocsis, Czibor, Hidegkuti, Bozsik e Grosics, vinha formando um grande time, invicta desde 1950, nesse meio tempo impondo duas humilhantes vitórias contra os ingleses, que já estavam com o orgulho ferido devido à derrota para o semi-amador time dos EUA na Copa de 1950, acaba se classificando sem jogar. Todos os times do grupo faziam parte do chamado Bloco Soviético, que era o conjunto da URSS e dos países que mantinham forte ligação – ou relações – com a mesma, todos vivendo sob semelhantes modelos socialistas.
Na mesma lógica de enfrentar países de ideologia semelhante, o grupo é formado por Tchecoslováquia, Romênia e Bulgária. Os tchecoslovacos estreiam fazendo 2x0 nos romenos, para a seguir os romenos vencerem os búlgaros por 3x1, também derrotados pelos tchecoslovacos por 2x1 – mas em casa, na capital Sofia. Com o fim do primeiro turno do grupo, a Tchecoslováquia é líder com 4 pontos, seguida da Romênia com 2 e a Bulgária com 0. No returno, os romenos visitam os búlgaros e vencem por 2x1, empatando em 4 pontos e partindo para a decisão da vaga na capital romena, Bucareste. Um jogo tenso, com Safranek marcando de pênalti para os tchecos aos 38 do primeiro tempo. Seria o único gol da partida, classificando os tchecoslovacos, que ainda enfrentariam a Bulgária em Bratislava e empatariam sem gols.
Egito e Itália se degladiariam no nono grupo. Duas vitórias italianas: 2x1 no estádio Mokhtar El Tetsh, em Cairo, hoje usado para treinamentos do Al Ahly, e um sonoro 5x0 no estádio Giuseppe Meazza (também conhecido como San Siro) em Milão. Classificação italiana, que ainda sofria com a trauma do melhor time do país o Torino, comandado por Valentino Mazzola, ter sofrido um acidente de avião em 1949. O time voltava de Lisboa, onde havia disputado um amistoso com o Benfica, quando o seu avião bateu na Basílica de Superga, que fica num morro em Turim. Todos os passageiros e tripulantes viriam a falecer.
Israel, que disputava as eliminatórias pela UEFA (confederação europeia de futebol), devido a desentendimentos e não reconhecimento dos países árabes (devido a simpatia com a causa palestina) da AFC (confederação asiática de futebol). Caiu no mesmo grupo de Iugoslávia e Grécia. Israel foi o saco de pancadas. Perdeu todos os jogos e nem gols marcou. Já a Iugoslávia venceu todos os jogos pelo placar mínimo, enquanto a Grécia, com duas vitórias e duas derrotas, ficou no meio do caminho.
É então a vez do grupo dos sulamericanos. Peru (que viria a desistir antes de jogar qualquer jogo), Brasil, Paraguai e Chile disputariam apenas uma vaga. E o Paraguai começa com tudo – vence o Chile em casa e fora, se colocando como um dos sérios postulantes à vaga. O Brasil então enfrenta o Chile em Santiago, vence por 2x0 com dois gols de Baltazar. Em seguida, vence o Paraguai em Assunção por 1x0, também gol de Baltazar. Havia empatado em pontos e tinha mais dois jogos, todos em casa – contra apenas um jogo de Chile e Paraguai. No primeiro deles, em março de 1953, vence o Chile em casa, com gol de – adivinha quem? – sempre ele, Baltazar. Também marca um no próximo jogo, uma vitória de 4x1 contra o Paraguai, num jogo que em nossos vizinhos paraguaios precisavam da vitória para se classificar. No entanto, a vaga foi nossa.
Também havia uma vaga para a América Central e do Norte. México, EUA e Haiti disputaram ela. O Haiti foi muito mal, perdendo todos os jogos, marcando 2 gols e tomando 18. O México ganhou todos os jogos sem dificuldade. 19 gols pró e 1 contra. Os EUA ficaram no meio termo, com 4 pontos contra 8 do México.
A vaga asiática seria decidida entre: República da China (popularmente conhecida por Taiwan), Japão e Coréia do Sul. Taiwan desistiu, enquanto Japão e Coréia do Sul decidiram a vaga no que seria, na prática, um mata-mata. Um jogo tenso, devido a história dos dois países. Na época do imperialismo japonês, o Japão anexou o (então unificado) Império Coreano, resultando num histórico de hostilidades entre os dois povos. Quem levou o melhor foram os sul-coreanos, que apesar de jogarem os dois jogos fora de casa, na capital japonesa Tóquio, venceram por 5x1 e empataram por 2x2.

Com isto, os times classificados seriam: Uruguai, Suíça, Alemanha Ocidental, Bélgica, Inglaterra, Escócia, França, Áustria, Turquia, Hungria, Tchecoslováquia, Itália, Iugoslávia, Brasil, México e Coréia do Sul. 45 inscrições foram feitas. 6 delas foram rejeitadas (Islândia, Bolívia, Costa Rica, Cuba, Vietnã e Índia). 3 times desistiram (Polônia, Peru e Taiwan). Somente a Hungria se classificou sem jogar. 33 times jogaram pelo menos uma partida. 208 gols em 57 jogos, totalizando 3,65 gols por jogo. Foi a primeira que jogaram alguma partida de eliminatórias para: Brasil, Chile, Japão, Paraguai, Protetorado do Sarre e Coréia do Sul.

quarta-feira, 20 de maio de 2015

História das Eliminatórias - Copa de 1950

Este é o terceiro texto sobre as eliminatórias das Copas do Mundo já disputadas. O primeiro, que pode ser acessando clicando aqui, é sobre a Copa de 1934 e o segundo, que você vê ao clicar aqui, é sobra a Copa de 1938. É recomendado que sejam lidos afim de melhor entendimento do torneio, seu contexto histórico e resultados anteriores.
Com o advento da Segunda Guerra Mundial, as Copas de 1942 e 1946 foram canceladas. Apesar da Guerra terminar ainda em 45, se decidiu não realizar em 1946 devido à Europa estar ainda destruída e em situação econômica catastrófica. Para estas eliminatórias, é necessário voltar um pouco na história para entender algumas coisas. A Alemanha após o conflito foi dividida em duas - Alemanha Ocidental e Alemanha Oriental - e foi proibida de participar do torneio. O Japão, apesar de não ter sido dividido, também foi proibido de participar. Na época da Copa, nenhuma das Alemanhas sequer tinha uma federação de futebol. A campeã da última Copa, Itália, já estava classificada, assim como o Brasil, país sede. 
Outro ponto a se esclarecer é a questão da Irlanda. Apesar de não ser um país independente, em 1882 foi fundada, em Belfast, a IFA - Irish Football Associaton, para representar toda a ilha da Irlanda. No entanto, a Irlanda entra em guerra e busca independência. Consegue, mas parcial. Uma parte do norte da ilha, onde haviam muitos protestantes, decide ficar junto do Reino Unido. Essa parte, hoje chamada de Irlanda do Norte, é chamada em irlandês de Ulster. Com o fim da Guerra de Independência da Irlanda, a parte sul da ilha, chamada no idioma local de Éire, se torna livre do domínio britânico. Este novo país é chamado de Estado Livre da Irlanda, ou alternativamente Irlanda do Sul. Já sendo um país independente, em 1921, em Dublin, capital do Estado Livre da Irlanda, se funda a FAI, Football Association of Ireland, para representar o Eire
Porém, como era um só povo, a IFA, do Ulster, continua convocando jogadores dos irlandeses do Sul, Em 1937, a FAI decide também convocar jogadores do Ulster, na época ainda chamado de Irlanda. Prática esta parada em 1946. No entanto, a IFA, do Ulster, decide continuar convocando jogadores irlandeses do sul (Eire) apenas até 1950. Em 1937, o Estado Livre da Irlanda muda seu nome para República da Irlanda, enquanto a parte britânica também se chama Irlanda, fato que pode causar grande confusão. A porção britânica da ilha só passaria a se chamar Irlanda do Norte em 1954.Por que toda essa história é importante? A Inglaterra, tal qual o resto das nações britânicas (Ulster, País de Gales e Escócia), não participava das Copas do Mundo por opção própria. Por terem criado o futebol, se acham superiores ao resto dos times e por isso se negavam a disputar a Copa. No entanto, para esta copa, decidem, pela primeira vez, participar.
Era o grupo 1. Inglaterra e as demais nações constituintes jogavam entre si, desde 1883, o British Home Championship, e decidiu que o torneio de 1949-1950 decidiria duas vagas para a fase final da Copa. Com um adendo: os escoceses, representados pelo cartola George Graham, dizendo que só jogariam a Copa se classificados em primeiro. Os ingleses aceitariam a vaga independente da colocação. Então, começa o torneio. Todos jogam entre si, apenas uma vez, em pontos corridos.
No primeiro jogo, a Irlanda (Ulster) recebe os escoceses, que massacram por históricos 8x2, com hat trick (três gols) de Henry Morris. Os galeses recebem os ingleses e perdem por 4x1. Gales enfrenta os escoceses fora de casa, em Glasgow, e perde por 2x0. Uma semana depois, os ingleses recebem os irlandeses em Maine Road, ex-estádio do Manchester City, e goleiam por 9x2, com quatro gols do histórico ídolo do rival dos donos da casa Manchester United, Jack Rowley. Os dois times da frente estão definidos: Escócia e Inglaterra. No entanto, como para os escoceses dependiam da colocação para jogar, apenas os ingleses estão classificados. O País de Gales recebe os irlandeses num jogo não valendo nada, que termina num xoxo 0x0. Chega então o esperado confronto: Escócia e Inglaterra, em Glasgow. Os ingleses, que tinham a vantagem do empate, vencem pelo placar mínimo com gol de Bentley e ficam em primeiro lugar. O capitão inglês, Billy Wright encoraja o capitão escocês, George Young, a tentar clamar para a federação escocesa de futebol aceitar a segunda vaga, porém não adiantou e temos a Inglaterra como classificada, pela primeira vez.
No segundo grupo, temos Turquia e Síria se enfrentando num sistema de ida-e-volta, porém só um passaria para a segunda fase do grupo. A Turquia, na ida, em Ankara, faz incríveis 7x0 e a Síria desiste. A Turquia se classifica para jogar com a Áustria, que desiste. A Turquia está classificada, porém devido ao alto custo da viagem para o Brasil, também desiste.
O terceiro grupo é composto de Israel, Iugoslávia e França. Mesmo esquema do segundo grupo: Israel e Iugoslávia na primeira fase. Duas vitórias dos balcânicas, por 6x0 em Belgrado e 5x2 em Tel-Aviv. Em Belgrado, a Iugoslávia recebe os franceses. 1x1. Na volta, em Paris, mesmo resultado, levando a um jogo desempate, em Florença. Aí, acontece um dos grandes jogos da história eliminatórias. Mihajlovic abre o placar. Um minuto depois, Walter empata para os franceses. Aos 38 do segundo tempo, Luciano vira o placar para os franceses e a classificação parece certa. Novamente um minuto depois, MIhajlovic empata. Na prorrogação, aos 9 do segundo tempo, com gol de Cajkovski, os balcânicos se classificam. Lembra que a Escócia, no primeiro grupo, ganhou uma vaga mas desistiu? A FIFA convidou os franceses, que aceitaram, porém depois desaceitaram.
No grupo 4, mesmo esquema. Suíça e Luxemburgo disputam entre si para ver quem enfrentaria a Bélgica, valendo a vaga. Duas vitórias suíças, por 5x2 em casa e 3x2 fora. No entanto, a Bélgica desiste de disputar, dando a vaga para os suíços.
Já o quinto grupo era diferente. Nele competiam Irlanda (do Sul, ou Eire), Suécia e Finlândia. Valia uma vaga só. A Suécia começa vencendo os irlandeses por 3x1, que no próximo jogo vencem os finlandeses por 3x0. Os suecos vencem os vizinhos finlandeses por incríveis 8x1, sempre vitórias do time da casa, até Finlândia e Irlanda empatarem em 1x1 em Helsinki, o que acarreta uma desistência dos finlandeses, ainda podendo ficar líder com uma vitória, os irlandeses tomam 3x1 dos suecos - que acabariam no quadrangular final da Copa - em Dublin e são eliminados. No entanto, são convidados para participarem do campeonato e recusam.
Temos um clássico ibérico valendo uma vaga no grupo 6. A Espanha, de Telmo Zarra, goleia os vizinhos lusos por 5x1 em Madrid. Em Lisboa, sai na frente - com gol de Zarra - mas Travessos e Correia viram o placar, animando os lusos. Porém, aos 37 do segundo tempo, Gaínza empata e acaba com o sonho luso de classificação. Este sonho, no entanto, viria a reacender. No segundo grupo, em que Turquia e Áustria se retiraram, sobrou uma vaga. Esta é oferecida aos portugueses, que, no entanto, recusam a mesma.
O primeiro grupo dos sulamericanos continha Argentina, Bolívia e Chile. Os argentinos desistem por causa de uma briga com a CBD (precursora da CBF), e como o regulamento previa duas vagas, Bolívia e Chile se classificaram automaticamente. O segundo grupo de sulamericanos viria a ser a mesma coisa, porém com Equador e Peru desistindo, portanto Uruguai (spoiler: futuro campeão da Copa) e Paraguai se classificando sem nem jogar.
Já no grupo relativo à América do Norte, houve algo semelhante com o grupo dos times britânicos. Aproveitou que estava sendo disputado o campeonato da NAFC (confederação de futebol que ao se fundir com a CCCF, confederação da América Central, formaria a CONCACAF em 1961) e foi declarado que o vencedor iria para a fase final da Copa. O México, clube da casa (o torneio era realizado todo no México) vence todos os jogos contra EUA e Cuba e passa de fase. Os EUA, ao empataram uma e ganharem a outra, ficam em segundo e são convidados a participar devido ao baixo número de times participantes devido a desistências.
O último grupo era o asiático, e nele aconteceu uma situação que até hoje gera uma lenda urbana. A Índia enfrentaria a Birmânia (hoje Myanmar) para disputar uma vaga com Indonésia e Filipinas. Porém os birmaneses desistiram. A Índia recebe a vaga na segunda fase, no entanto Indonésia e Filipinas desistem e a Índia fica com a vaga. Por motivos econômicos e de valorização das Olimpíadas em prejuízo da Copa, a Índia desiste da vaga. Até hoje existe a lenda urbana que a Índia desistiu por não poder jogar descalça. Havia sim uma regra - como ainda há - da FIFA proibindo os times de jogarem descalços, a Índia jogou as Olimpíadas descalça e a FIFA deu de ombros. O capitão indiano, Sailen Manna, depois afirmou que a proibição de jogarem descalços não foi um dos motivos para desistirem da vaga, porém o mito continua. 
Com isto, são classificados para a Copa: Brasil, México, Suíça, Iugoslávia, Inglaterra, Chile, Espanha, EUA, Itália, Paraguai, Suécia, Uruguai e Bolívia. Se torna uma das menores copas da história, com apenas 13 times, tal qual em 1930, na primeira edição. 34 inscrições foram feitas. Nenhuma foi rejeitada. 9 times desistiram: Áustria, Bélgica, Argentina, Equador, Peru, Birmânia, Índia, Indonésia e Filipinas. 4 times se classificaram sem jogar nenuhma partida: Bolívia, Chile, Paraguai e Uruguai. 19 equipes jogaram ao menos uma partida. Foram jogados 26 jogos, nos quais foram marcados 121 gols, uma média de 4,65 gols por jogo. Foi a primeira vez que Inglaterra, Israel, Irlanda do Norte, Escócia, Sìria, Turquia e País de Gales participam de jogos em eliminatórias de Copas.

sábado, 9 de maio de 2015

História das Eliminatórias - Copa de 1938


Este é o segundo texto sobre as eliminatórias das Copas do Mundo já disputadas. O primeiro, que pode ser acessando clicando aqui, é sobre a Copa de 1934 e é recomendado que seja lido afim de melhor entender o torneio, seu contexto histórico e resultados anteriores.
Após a Copa de 1934 ser um sucesso, surgem muitos interessados para a Copa de 1938. Porém, haveria algo que faria muitos times desistirem: a Copa foi criada com o objetivo de a sede ser revezada entre a América do Sul e da Europa, ainda não que oficialmente, mas num acordo de cavalheiros. Após a edição de 1930 ser no Uruguai e a de 1934 ser na Itália, era parte do acordo voltar à América do Sul. No entanto, Jules Rimet, fundador da Copa, convence a FIFA a sediar o evento no seu país natal, a França, gerando a ira de muitos países americanos que em protesto desistem de jogar, como Argentina, Chile, Paraguai, Peru, Colômbia, Costa Rica, El Salvador, México, Uruguai, EUA e Guiana Holandesa, então colônia da Holanda, que depois de independente viria se tornar o Suriname.
O primeiro grupo era da Europa e continha 4 países: a Alemanha, então governada pelos nazis (fato que iria mudar a história da competição depois), a Suécia, a Estônia e a Finlândia. Todos os times jogariam entre si uma vez cada e os dois melhores passavam de fase. A Suécia começa com duas goleadas em casa: 4x0 na Finlândia e 7x2 na Estônia. Foi a vez da Finlândia jogar em casa: duas derrotas, por 2x0 para a Alemanha e 1x0 para a Estônia. Com isto, a Finlândia já estava eliminada. Eram três times disputando duas vagas. Alemanha e Estônia se enfrentam em Königsberg, que hoje é Kaliningrado e faz parte de um enclave russo entre a Polônia e a Lituânia. Os alemães goleiam por 4x1 e temos os dois classificados: Alemanha e Suécia. Disputam o jogo valendo a liderança do grupo, conquistada pelos alemães após um 5x0.
Já no segundo grupo foram dois jogaços: Estado Livre da Irlanda e Noruega definiriam, em ida e volta, um vencedor. Em Oslo, Kvammen abre o placar, Geoghegan e Dunne viram a partida para depois Kvammen novamente empatar e Martinsen marcar o gol da virada norueguesa. Em Dublin, na volta, Dunne abre o placar para a Noruega fazer 3x1 com dois gols de Kvammen. Porém a Irlanda consegue um empate heróico aos 43 do segundo tempo, botando fogo no jogo, mas não passou de um 3x3, confirmando a vaga para os escandinavos.
No próximo grupo temos o mesmo formato e regras, porém se enfrentam Polônia e Iugoslávia. Massacre polonês por 4x0 em Varsóvia contra uma derrota pelo placar mínimo em Belgrado, dando à Polônia de Wilimovski a vaga.
Quarto grupo, temos uma situação curiosa: devem se enfrentar Egito e Romênia, também ida e volta. O jogo de ida seria em dezembro de 1937, que segundo a tradição muçulmana, é o mês do Ramadã, no qual os islâmicos, religião maioritária no Egito, fazem uma espécie de jejum, o que enfraqueceria muito os jogadores, tornando impossível um jogo a nível competitivo contra os romenos. Então os egípcios resolvem convidar o mais antigo clube austríaco para um amistoso: o First Vienna FC. A FIFA então decide punir os egípcios e os elimina da competição, dando a vaga para os romenos.
No quinto grupo o regulamento muda, são duas fases. Portugal e URSS se enfrentariam em ida e volta, sendo que o vencedor enfrentaria a Suíça valendo a vaga, num jogo único. Os soviéticos desistiram da vaga, então Portugal partiu direto para o jogo com os suíços. Perdeu por 2x1 com o gol de honra marcado pelo lendário Peyróteo, grande ídolo do clube português Sporting.
O próximo grupo, o sexto, tinha o mesmo regulamento. Grécia e Mandato Britânico da Palestina jogaram valendo a vaga na segunda fase, com duas vitórias helênicas. Os gregos jogaram então contra a Hungria em Budapeste. Foram trucidados por 11x1 com 5 gols de Zsengellér e a vaga ficou com os magiáres.
No sétimo grupo haviam apenas dois times e uma vaga. Búlgaros e tchecoslovacos se enfrentaram primeiro em Sofia, com empate por 1x1 com o gol búlgaro sendo marcado apenas em 44 do segundo tempo. Na volta, em Praga, massacre tchecoslovaco por 6x0 com 2 gols do craque Nejedly, que seria depois artilheiro da Copa.
Um clássico báltico no grupo 8: Letônia vence a Lituânia fora e em casa, com 9x3 no agregado e 5 gols de Kaneps. Porém o regulamento era igual ao do grupo 5 e 6. Os letões enfrentaram a Áustria em Viena e perderam de virada, dando a vaga os germânicos. No entanto, 5 meses depois, a Alemanha Nazi na sua política pan-germanista nacionalista anexa a Áustria, episódio chamado hoje de Anschluss em alemão. A Áustria tinha sido um dos melhores times da Copa de 1934 e contava com grandes jogadores. O grande craque austríaco Mathias Sindelar, no entanto, se recusa a jogar pela seleção alemã - agora ele era alemão - e pouco tempo depois tem uma morte misteriosa, que embora atribuída a envenenamento acidental por monóxido de carbono até hoje há quem defenda que ele foi morto pelo regime nazi.
O nono grupo também segue critérios geográficos e fica com os 3 times do Benelux - Bélgica, Holanda e Luxemburgo - mais a Dinamarca, que desiste de jogar. Todos contra todos apenas uma vez. Luxemburgo segue sendo o saco de pancadas e perde os dois jogos, com a Holanda - até então uma nanica no futebol - passa em primeiro colocado com a Bélgica levando a segunda vaga.
No décimo grupo, que contava com Brasil e Argentina, os brasileiros não precisaram jogar para passar de fase, visto a desistência argentina.
Já a vaga norte e centro-americana, foi uma confusão. Um dos grupos havia México e EUA, como o México desistiu, os EUA passaram para pegar o vencedor do grupo asiático. Porém, além da questão do acordo de cavalheiros, havia uma questão econômica. Os EUA esperavam financiar a viagem à Copa do Mundo com o dinheiro da renda de um jogo contra a Inglaterra, porém os ingleses se recusaram a jogar num domingo e com isso os EUA desistem. Porém, a então Guiana Holandesa, Cuba, Colômbia, El Salvador e Costa Rica ainda estão na disputa por uma vaga. A Guiana Holandesa, por não responder uma correspondência oficial, foi eliminada, sendo planejado um quadrangular com os times restantes. A Guiana Holandesa protesta e consegue sua vaga de volta, porém Colômbia e El Salvador desistem.
Sobram Guiana Holandesa, Cuba e Costa Rica. A Guiana Holandesa desiste também por motivos econômicos e pede para jogar contra o vencedor do grupo asiático, como a FIFA havia sugerido com os EUA, porém a FIFA não atende à solicitação. Depois, a Costa Rica desta vez desiste e só sobra Cuba. Lembra que no começo disse que a Argentina tinha desistido? Bem, eles des-desistiram e ficaram de enfrentar Cuba para decidir a vaga. Como os argentinos queriam uma vaga direta, novamente desistiram (confuso, não?) e Cuba se classificou sem nem jogar uma partida.
Para a vaga asiática também houve desistências. As Índias Orientais Holandesas (que depois viriam a ser independentes e formar a Indonésia) ficaram no grupo de Austrália, China, Nova Zelândia, Filipinas e Japão. Todos estes citados (menos Japão e Índias Orientais) desistiram, ficando marcado um jogo entre Japão e futura Indonésia em Saigon, no Vietnã (hoje chamada de Cidade de Ho Chi Mihn, líder socialista vietnamita e herói da Guerra de Independência contra os franceses e da Guerra do Vietña contra os americanos) porém o Japão também resolve desistir, pois está ocupado em guerra contra a China. As Índias Orientais são programadas para jogar com os EUA, como já explicado, porém com a desistência dos mesmos elas conseguem sua vaga direta na Copa.
Os classificados são: Áustria, Bélgica, Brasil, Cuba, Tchecoslováquia, Índias Orientais Holandesas, Alemanha, Hungria, Holanda, Noruega, Polônia, Romênia e Suíça, que se juntam a França e Itália, classificadas automaticamente por serem país sede e país campeão, respectivamente. Com a Anschluss, a Áustria é incorporada à Alemanha e a Copa fica, excepcionalmente, com apenas 15 participantes. 37 inscrições foram feitas.
Apenas uma foi rejeitada, da Espanha, por estar envolvida numa guerra civil. 9 times desistiram: Egito, Argentina, Colômbia, Costa Rica, Guiana Holandesa, El Salvador, México, EUA e Japão. 4 times se classificaram sem jogar nenhuma partida: Romênia, Brasil, Cuba e Índias Orientais Holandeses. 21 times jogaram ao menos 1 partida. 22 partidas aconteceram, nelas acontecendo 96 gols. Uma média de 4,36 gols por jogo. Foi a primeira vez de Finlândia, Letônia e Noruega participarem de eliminatórias de Copas.

terça-feira, 5 de maio de 2015

História das Eliminatórias - Copa de 1934

Este é o começo de uma série sobre as eliminatórias para as Copas do Mundo, desde 1934, na primeira edição das eliminatórias até 2014, últimas que foram completadas.
Na Copa de 1930, todos os times foram convidados. portanto não houve nenhum sistema de eliminatórias. Como na época o futebol ainda não era profissionalizado mundo afora, muitos jogadores não podiam ficar fora o mês inteiro pois faltariam seus trabalhos, portanto houve muitos países americanos na disputa, havia a proximidade geográfica, não havia a necessidade de pegar um cruzeiro da Europa para a América do Sul - no caso o Uruguai. Muita gente não sabe, mas as eliminatórias não são um torneio anterior à Copa do Mundo. Elas são a Copa do Mundo, as eliminatórias fazem parte oficialmente da Copa. O que conhecemos como Copa do Mundo é a sua fase final.
O Mundo foi dividido em 12 grupos - primeiramente por fatores geográficos. O grupo 1 continha Suécia, Estônia e Lituânia. Apenas um passaria. Foi dado nele o primeiro pontapé da história para definir os participantes da fase Final da Copa. O local era o Estádio Olímpico de Estocolmo, na Suécia. O time da casa enfrentava a Estônia, então um país independente da URSS. Quem abriu o placar, aos 7 minutos do primeiro tempo, foi o capitão sueco Knut Kroon (ainda que hoje há quem afirme que o gol foi contra, do estoniano Evald Tipnder) que abriu o caminho para um massacre por 6x2 com dois gols de Ericsson. Após este, se seguiu no grupo o jogo Lituânia x Suécia, em Kaunas, no país báltico. A Suécia venceu por 2x0, selando a sua classificação. Como o jogo entre Estônia e Lituânia valia menos que um pastel de vento (não havia sistema de returno, portanto sendo impossível de alguma das equipes alcançar a Suécia em pontos) foi decidido que o jogo não aconteceria.
O grupo 2 tinha formato diferente. Continha apenas dois times: Portugal e Espanha. Porém havia uma diferença fundamental: era um sistema de ida e volta. Primeiro jogo em Madrid: Isidro Lángara dá show, marca cinco gols e a Espanha impõe incríveis 9x0 contra Portugal no antigo Estádio Chamartín. No jogo da volta, Portugal até sai na frente com Silva, mas Lángara - que era basco e jogava amistosos com a seleção basca pela Europa para reunir dinheiro para causa republicana (isto é, anti Franquista) na Guerra Civil Espanhola virou o jogo em apenas 13 minutos. Era definido o segundo classificado para a fase final da Copa.
O grupo 3 tinha o mesmo formato e regras que o grupo 2, porém os times eram Itália e Grécia. Os italianos, que depois seriam campeões desta Copa, goleiam impiedosamente a Grécia por 4x0 em Milão, com dois gols do lendário Giuseppe Meazza. A Grécia ficou tão atordoado pela derrota que decidiu não jogar o jogo de volta e deu a vaga aos italianos. Foi a primeira e até agora única vez em que o país sede teve que jogar eliminatórias.
Já o grupo 4 era diferente. Contava com dois países da Europa Central e um da Europa Oriental - Áustria, Hungria e Bulgária. Sistema de ida e volta, os dois melhores classificados passavam de fase. O primeiro jogo foi em Sofia, capital búlgara. Bulgária x Hungria. Os magiares goleiam os búlgaros por 4x1. A Bulgária jogou de novo: desta vez fora de casa contra a poderosa Áustria de Horvath e Sindelar. É massacrada por 6x1. Ainda tendo chance de se classificar, a Bulgária enfrentou a Hungria em Budapeste. Foi goleada por 4x1 e se retirou da competição. O confronto Áustria x Hungria, os dois que passaram de fase, ficou para outro dia. Coincidentemente, ele aconteceu na Copa de 34, nas quartas de final, com vitória austríaca, que rumaria ao quarto lugar na Copa.
Próximo grupo: grupo 5. Seguindo os critérios geográficos, foram definidos no grupo Polônia e Tchecoslováquia. Sistema de ida e volta, apenas um passava. No primeiro jogo, na Polônia, a anfitriã perde em casa e desiste de jogar a volta. A Tchecoslováquia iria rumo ao vice campeonato.
Sexto grupo: Iugoslávia. Romênia e Suíça. Só ida, dois melhores passam. A Iugoslávia empata em casa com a Suíça por 2x2 depois de estar vencendo por 2x0. Próximo jogo é em Berna, Suíça x Romênia. A Romênia abre 2x0 mas a Suíça novamente empata. Aí entra o primeiro asterisco, o primeiro tapetão da história das copas. A Romênia havia escalado um jogador irregular, e com isto a FIFA muda o placar para 2x0 para os suíços e os classifica. A batalha era em Bucareste, Romênia x Iugoslávia. Empate dava Iugoslávia, quem vencesse passava. 38 do primeiro tempo, Schwartz abre o placar para os romenos. Kragic deixa tudo igual aos 26 do segundo. Porém, aos 29 do segundo tempo, o austro-húngaro de nascimento Dobay marca o gol da classificação dos romenos.
Estado Livre da Irlanda (atual Irlanda), Bélgica e Holanda disputam, em turno único, duas vagas no grupo 7. A Irlanda estreia em casa contra os belgas. Apesar de show do irlandês Moore - marcou  todos os 4 gols irlandeses - os dois times empatam. A Irlanda então ruma a Amsterdã, onde a Holanda vence por 5x2 e encaminha a vaga. Os times que passam iriam ser definidos na Antuérpia. Um jogo que parecia morno e foi ao intervalo em 0x0 acaba num surpreendente 2x4, que classifica os holandeses, com duas vitórias, e os belgas, que ao empatar em pontos com a Irlanda, a superou em goal average, que consiste em dividir o número de gols pró pelo de gols contra.
O oitavo grupo tinha o mesmo formato e regras, porém os postulantes às vagas eram França, Alemanha e Luxemburgo. Ali começava o martírio luxemburguês: é até hoje o único país a disputar todas as eliminatórias e nunca se classificar. Eles estream tomando 9x1 da Alemanha e depois 6x1 da França. Como os dois já estavam classificados, não havia a necessidade de jogo entre França e Alemanha e o mesmo foi desmarcado. Os países europeus classificados portanto eram: Suécia, Espanha, Itália, Áustria, Hungria, Tchecoslováquia, Romênia, Suíça, Bélgica, Holanda, França e Alemanha. Agora passemos às eliminatórias sul americanas.
O primeiro grupo dos su lamericanos era o 9. Brasil e Peru. Se enfrentariam uma vez, quem levasse a melhor levaria a vaga. Porém o Peru desistiu. O décimo grupo era igual, porém com Chile e Argentina. Com a desistência do Chile, a Argentina levava a segunda vaga dos sul americanos.
Era a vez das eliminatórias da CONCACAF, que é a organização que rege o futebol das América do Norte e Central. A primeira eliminatória era Haiti x Cuba, três jogos em Porto Príncipe, no Haiti, quem fosse melhor passava de fase. Cuba venceu duas - por 3x1 e 6x0 - e empatou a outra, agora jogando fora de casa contra o México, que venceu as três partidas, passando desde um 3x2 a um 5x0. O México definiria o classificado da CONCACAF num jogo único contra os EUA em campo neutro, em Roma. Vitória americana com 4 gols e show de Aldo Donelli. Faltava um só time para fechar os 16 participantes. E essa disputa seria intercontinental.

Quem disputou a última vaga foi o africano Egito e o asiático....Mandato Britânico da Palestina. Apesar de não ser um país. ainda sim tinha seleção própria, composta por ingleses, árabes e judeus. O Egito vence as duas com facilidade, levando a vaga. A Turquia também fazia parte do grupo mas desistiu de jogar. Com as eliminatórias todas prontas, em 24 de maio de 1934 tá tudo definido, ficam classificados: EUA, Brasil, Argentina, Egito, Suécia, Espanha, Áustria, Holanda, Itália, Tchecoslováquia, Suíça, Romênia, Bélgica, Holanda, Alemanha e França. 32 inscrições foram feitas. Nenhuma foi rejeitada. 3 países desistiram: Chile, Peru e Turquia. 2 times se classificaram sem jogar: Argentina e Brasil. 27 times jogaram ao menos uma partida. Foram 141 gols em 27 jogos – 5,22 gols por jogo.

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Histórico da Chapecoense no Campeonato Catarinense

Um breve histórico sobre o desempenho da Chapecoense nos Catarinões. Se trata de um clube novo para os padrões brasileiros, tendo apenas 43 anos. No entanto, já tem sete títulos, sendo o quinto maior campeão estadual da história. O futebol catarinense é historicamente muito equilibrado, com 4 grandes forças, porém há vários times campeões, muitos inativos e muitos com títulos da década de 70 para trás. Descontando os títulos dos 4 grandes e da Chapecoense, desde 1972 só temos um campeão diferente, o Brusque em 1992. Título conquistado em cima do Avaí, sendo os dois rebaixados no campeonato do próximo ano. 

A tabela de participações é a seguinte:



Já a Chapecoense na sua história começou bem: apesar do campeonato ruim em 1976, quase sempre se manteve entre os 5 primeiros do campeonato na década de 70, tendo inclusive ganho um título em 1977. Após os anos 80 não serem muito bons, tem outra grande época nos anos 90. Ganha 1 título no glorioso 1996 e duas vezes é vice, só tendo ficado abaixo do quinto lugar em 1992. Entretanto, nem tudo são flores para o clube ao seguir. Em 2001 (e 2002) foi rebaixada para a bizarra primeira-divisão-e-meia, já tendo voltado a disputado a primeira divisão em 2002 (e 2003). Depois de uma grave crise financeira e de futebol no começo dos anos 2000, forma parceria com o Hotel Kindermann, de Caçador anos de 2003 e 2004. Em 2005 rompe a parceria, renasce e é pela terceira vez campeã catarinense apenas dois anos depois, em 2007. Passa a alternar anos bons e ruins: apenas um oitavo lugar em 2008, um vice em 2009 (com um derrota histórica por 6x1 para o Avaí - 3 gols do time da capital sendo feitos na prorrogação), em 2010 faz campanha péssima e é rebaixado, porém o Atlético Ibirama pede licença e com isso o time se escapa. E então recomeça a era vitoriosa: título em 2011, 2013 um bicampeonato em 2016 e 2017 e sempre boas colocações, sempre brigando lá em cima.  Um aproveitamento histórico de 53,53%, tendo como auge em questão de aproveitamento o vice de 1995 (71,01% de aproveitamento) e como pior ano o terrível 2006, no qual teve apenas 20% de aproveitamento - um ponto conquistado a cada 5 disputados. Na tabela, em amarelo se encontram as campanhas em que foi campeão e em vermelho as que foi "rebaixada".

 Também aproveito o post para divulgar o excelente blog/revista do amigo Yuri, você pode conferir aqui a mais recente edição da revista virtual que reúne histórias do futebol e um artigo sobre a eleição para presidente da FIFA, seus candidatos e suas propostas:  http://www.escrevendofutebol.com.br/2015/05/revista-escrevendo-futebol-3-edicao.html

sábado, 2 de maio de 2015

Histórico de Grenais em mata-mata

O Grenal se confunde com a história do RS. Realizado mais de 400 vezes ao longo dos anos, é o maior clássico do Sul do país e talvez o maior do país. Naturalmente, houve muitos grenais decisivos, principalmente para âmbito de competições estaduais e municipais. Mas ao contrário do senso comum, nem todo campeonato gaúcho é Grenal na final. Vale lembrar que muitas vezes, propositalmente, o Grenal era o último jogo do gauchão - porém como parte do calendário normal, já que o Campeonato Gaúcho não foi mata-mata por muito tempo. Sendo o último jogo, muitas vezes - porém algumas não - era o jogo que decidia o campeonato pois Grêmio e Inter estavam próximos em pontos. No entanto, estes jogos não são contados na seguinte lista, apesar de serem igualmente decisivos. São contados apenas jogos de mata-mata, muitas vezes sendo o jogo-extra, muito comum antigamente porém não muito hoje.
A dupla decidiu o campeonato em mata-mata em 1962, 1976, 1977, 1978, 1991, 1992, 1995, 1997, 1999, 2006 , 2010, 2011, 2014 e 2015. "Apenas" a décima quinta vez neste ano. Se destaca o grande número de Grenais em fases intermediárias da segunda metade da década de 70, marcado por regulamento muito estranhos - tendo como caso marcante o campeonato em que o Grêmio com a derrota se classificava e com a vitória não. A cor na coluna campeonato indica que clube passou de fase, enquanto no resultado indica o vencedor do jogo. Obviamente, o vermelho e branco significando triunfo colorado e o azul e preto triunfo gremista.


A história começo no longínquo ano de 1940, ainda que referente ao Citadino de Porto Alegre de 1939. Passa também pelo Torneio Início, realizado no RS nas décadas de 40 e 50, pelos campeonatos gaúchos, pelo Campeonato Brasileiro - o famoso Grenal do Século - além da Copa do Brasil, da Seletiva para Libertadores e até em torneios internacionais, na Copa Sul Americana. Sobre 1977, há a polêmica se realmente se tratava de uma final. O Grêmio, vencedor de dois turnos, foi para a fase final com dois pontos. O Inter, vencedor de um turno, com um ponto. Os times jogavam entre si até algum ficar com 4 pontos - o Grêmio precisando de uma vitória ou dois empates, o Inter precisando ganhar o primeiro jogo e não perder o segundo, ou empatar o primeiro e ganhar o segundo - levando o título.
Recentemente, com a adoção de formatos de estadual em dois turnos, são comuns enfrentamentos entre gremistas e colorados, seja no primeiro turno, no segundo ou na finalíssima. Fazendo as contas, Os times se enfrentaram 55 vezes. com 15 vitórias tricolores, 17 empates e 23 vitórias coloradas. No entanto, devido a regulamentos como gol fora, mais de um jogo, melhor campanha e etc, quem eliminou quem é uma conta diferente. Os tricolores eliminaram os colorados 12 vezes, enquanto os colorados eliminaram gremistas 24 vezes. O Grêmio já conseguiu eliminar o Inter duas vezes seguidas, em 1940 e 1949, enquanto o Inter conseguiu eliminar o Grêmio 4 vezes seguidas - entre 1989 e 1992. Feito que pode repetir se for consagrado campeão gaúcho na final de amanhã.
Contando apenas finais de campeonato, qualquer um dos pesquisados, os dois times se enfrentaram 28 vezes, com 10 vitórias gremistas, 8 empates e 10 vitórias colorados. Porém, devido aos regulamentos, o Grêmio foi 8 vezes campeão e o Inter 9 vezes. Isso sem contar o clássico de amanhã. E aí, você acha que o Inter aumenta a vantagem ou o Grêmio leva e chega mais perto do rival?

sexta-feira, 1 de maio de 2015

História do Grêmio no Gauchão

Esta postagem é uma breve história do Grêmio no gauchão ao longo da sua história. Começa com uma informação importante: até a década de 60, o Gauchão era por regiões, e havia geralmente só um time de Porto Alegre disputando-o, o que explica a ausência tricolor em muitas edições, especialmente na década de 40. Outras ausências são explicadas por participações em ligas paralelas. A tabela histórica de participações é a seguinte:

Tabela de participações

          Em primeiro lugar, é feito uma lista das posições já conquistadas. Gostaria de lembrar o leitor que no começo dos anos 2000 e fim dos anos 1990 as fórmulas dos torneios costumavam fazer com que a dupla GreNal entrasse em fases mais avançadas do torneio, o que explica o baixo número de jogos e uma possível confronto de posição do time com relação a outras fontes. Contabilizamos: 36 primeiro lugares, 26 segundos lugares, 2 terceiros lugares, 3 quartos lugares, 3 quintos lugares, um sexto lugar, um nada honrado oitavo lugar e 24 não participações. São 1444 jogos, com 897 vitórias, 339 empates e 208 derrotas. 2709 gols pró e 1009 gols contra.. Um aproveitamento médio de 73,89%. Comparado com o rival Inter, o Grêmio jogou menos, ganhou menos, empatou mais, perdeu mais, marcou mais gols, tomou mais gols (ainda sim ficando com saldo melhor) e pontuou menos - no geral e proporcionalmente.
As piores participações não são difíceis de definir. A pior, em termos de aproveitamento, é a sua primeira. 199, entrou na final e perdeu de 5x1 - e acabou, só isso. 1 jogo, 1 derrota, 0% de aproveitamento. Já de campeonatos mais longos, há o tenebroso 2003. Entrou numa fase mais avançada não venceu - 2 empates e 4 derrotas, com apenas 11,11% de aproveitamento. Outra campanha muito ruim, mas com torneios mais longos ainda, foi 2013, em que o clube aproveitou só 51,85% dos pontos possíveis, ficando no modesto quinto lugar. Porém, olhando apenas para a posição, não houve ano pior que 2002, no qual o Grêmio ficou em oitavo - com um (baixo) aproveitamento de 44,44%.
Agora vamos falar de coisa boa: as grandes campanhas. 100% de aproveitamento só foi possível em torneios mais curtos - o mais longo deles sendo o de 1960, com 6 jogos - e o feito se repetiu 6 vezes. Depois destas, a melhor campanha foi em 1965. 22 jogos. 20 vitórias e 2 empates: incríveis 95,45% de aproveitamento - era o Grêmio da época dos 12 de 13, tempo em que ganhou 12 de 13 gauchões disputados, tendo como um dos destaques o já falecido Aírton Pavilhão. Agora vejamos alguns gols históricos:

Gol 1: Máximo, Grêmio 1x5 Brasil-PEL, 19/10/1919
Gol 50: ?, Grêmio 7x1 Riograndense, 20/12/1931
Gol 100: ?, Grêmio 3x1 Floriano, 15/01/1950
Gol 150: ?, Pelotas 2x2 Grêmio, 01/02/1961
Gol 200: ?, Grêmio 6x0 Riograndense, 12/10/1961
Gol 250: ?, Juventude 1x4 Grêmio, 10/12/1961 (?)
Gol 300: ?, Grêmio 3x1 Rio Grande, 10/05/1964
Gol 400: ?, Grêmio 3x1 Guarany de Bagé, 07/08/1966
Gol 500: Vieira, Grêmio 2x1 Guarany de Bagé, 08/10/1967
Gol 600: Flecha (?), Ypiranga 2x5 Grêmio, 12/04/1970
Gol 700: Flecha, Grêmio 1x0 Esportivo, 31/07/1971
Gol 750: Humberto Ramos, Grêmio 2x0 Gaúcho, 25/04/1973
Gol 800: Iúra, Grêmio 3x1 Inter-SM, 24/11/1974
Gol 900: Ancheta, Grêmio 2x0 Inter, 28/07/1976
Gol 1000: André Catimba,, Grêmio 3x0 Estrela, 03/09/1978
Gol 1100: Éder, Bagé 0x5 Grêmio, 06/05/1979
Gol 1200: Baltazar, Caxias 1x3 Grêmio, 01/10/1979
Gol 1250: Héber (?), Caxias 0x5 Grêmio, 12/07/1981
Gol 1300: Edmar, São Paulo 0x2 Grêmio, 07/08/1984
Gol 1400: Luis Carlos Martins (?), São Paulo 2x4 Grêmio, 16/08/1984
Gol 1500: Valdo, Grêmio 5x0 Bagé, 19/03/1986
Gol 1600: Lima, Pelotas 0x1 Grêmio, 07/05/1987
Gol 1700: Paulo Egídio, Grêmio 2x2 Passo Fundo, 23/04/1989
Gol 1750: Nílson, Grêmio 1x1 Ypiranga, 21/04/1990
Gol 1800: Caio, Grêmio 2x1 Inter, 22/09/1991
Gol 1900: Carlinhos, Aimoré 0x4 Grêmio, 26/03/1994
Gol 2000: Nildo, Grêmio 2x2 Juventude, 26/06/1995
Gol 2100: Dinho, Grêmio 5x0 Santa Cruz, 27/04/1997
Gol 2200: Ronaldinho Gaúcho (?), Santa Cruz 1x3 Grêmio, 13/05/2000
Gol 2250: Caio Ribeiro, Grêmio 3x3 Juventude, 15/02/2003
Gol 2300: Élton, Grêmio 1x1 XV de Novembro, 01/04/2005
Gol 2400: Pereira, Esportivo 1x2 Grêmio, 24/02/2008
Gol 2500: Borges (?), Canoas 1x5 Grêmio, 07/02/2010
Gol 2600: Kléber, Grêmio 5x0 Novo Hamburgo, 11/03/2012
Gol 2700: Giuliano, Grêmio 2x0 Lajeadense, 22/03/2015

Como os dados são raros, muitas das marcas não são certas. O marcante milésimo gol foi marcado pelo histórico André Catimba, autor do gol do título do Gauchão de 1977. Pode ser destacada a presença de vários jogadores importantes para a história do futebol brasileiro e até mundial, como Éder, Valdo, Ronaldinho e Ancheta.

Vitória 1: Grêmio 3x0 Uruguaiana, 18/11/1920
Vitória 50: Guarany de Bagé 0x5 Grêmio, 28/10/1961
Vitória 100: Grêmio 1x0 Juventude, 18/10/1964
Vitória 150: Gaúcho 0x2 Grêmio, 29/10/1967

Vitória 200: Grêmio 2x0 Gaúcho, 10/06/1970

Vitória 250: Grêmio 1x0 Caxias, 29/07/1972

Vitória 300: Grêmio 4x0 Ypiranga, 13/06/1977
Vitória 400: Brasil-PEL 0x2 Grêmio, 15/08/1979
Vitória 500: Grêmio 2x0 Aimoré, 10/10/1984

Vitória 600: Inter 1x3 Grêmio, 28/05/1989

Vitória 700: Guarani-VA 0x2 Grêmio, 02/03/1996
Vitória 750: Passo Fundo 0x2 Grêmio, 02/05/2000
Vitória 800: Caxias 1x3 Grêmio, 18/03/2007



Contra quem será a vitória 900? Faltam apenas 3!

Jogo 1: Grêmio 1x5 Brasil-PEL, 19/10/1919
Jogo 50: Grêmio 6x0 14 de Julho, 01/02/1960
Jogo 100: Grêmio 3x1 Floriano, 23/06/1963
Jogo 150: Rio Grande 0x1 Grêmio, 01/08/1965
Jogo 200: Farroupilha 1x1 Grêmio, 15/10/1967
Jogo 250: Flamengo 0x2 Grêmio, 04/05/1969
Jogo 300: 14 de Julho 1x2 Grêmio, 27/09/1970
Jogo 400: Inter de São Borja 1x1 Grêmio, 11/05/1975
Jogo 500: Juventude 0x0 Grêmio, 08/10/1978
Jogo 600: São Paulo 0x1 Grêmio, 12/10/1989
Jogo 700: Grêmio 1x0 Aimoré, 29/09/1983
Jogo 750: Inter 2x0 Grêmio, 25/11/1984
Jogo 800: Grêmio 0x1 Juventude, 23/04/1986
Jogo 900: Juventude 4x3 Grêmio, 16/04/1989
Jogo 1000: Pelotas 1x3 Grêmio, 06/12/1992
Jogo 1100: Grêmio 3x3 São Luiz, 19/07/1995
Jogo 1200: Santa Cruz 0x0 Grêmio, 29/03/2001
Jogo 1250: Grêmio 1x1 XV de Novembro, 01/04/2005
Jogo 1300: Grêmio 0x0 Caxias, 13/03/2008
Jogo 1400: Grêmio 2x0 Caxias, 23/03/2013

     Tendo apenas um Grenal em jogos de números redondos e perdendo o mesmo, vale a pena destacar a estréia ruim do Grêmio em gauchões, ainda que esta seja cheia de glórias. Alguma dica, sugestão, correção, crítica? Manda aí!