sexta-feira, 22 de maio de 2015

História das Eliminatórias - Copa de 1958

Chegamos ao queinto texto sobre as eliminatórias das Copas do Mundo já disputadas. O primeiro, que pode ser acessando clicando aqui, é sobre a Copa de 1934, o segundo, que você vê ao clicar aqui, é sobra a Copa de 1938 e o terceiro, que você pode ler ao clicar aqui, é sobre a Copa de 1950, no Brasil, o quarto, que está aqui é sobra a Copa de 1954, na Suíça. É recomendado que sejam lidos todos os textos anteriores afim de melhor entendimento do torneio, seu contexto histórico e resultados passados.
Nas eliminatórias para a Copa de 1954 já podemos notar um grande avanço quanto à organização de regras, mas para a Copa de 1958 o avanço foi maior ainda. Ainda que tendo melhorado, quando perceberam que era a maior zona, algo poderia ser feito. Dois países foram classificados automaticamente: a Alemanha Ocidental, campeão da Copa anterior e a Suécia, país-sede. Foram definidas 3 vagas para a América do Sul, 1 para a América do Norte e Central, 11 para a Europa e 1 para a África e Ásia. Time se classificarem sem jogar devido a desistência de adversários era algo que era comum nas eliminatórias anteriores, então a FIFA decidiu impor uma regra: todo os times teriam que ter jogado pelo menos um jogo para se classificar. Regra essa que se tornou muito importante, como veremos a seguir.
O primeiro grupo da UEFA era composto por Inglaterra, Irlanda e Dinamarca. O regulamento dele, tal qual dos outros grupos da UEFA era o seguinte: todos se enfrentavam em ida e volta. O melhor de cada grupo passava. Os escandinavos foram muito mal, perdendo todos os jogos. Já a Irlanda, começou mais ou menos. Venceu a Dinamarca, mas foi goleada pela Inglaterra em Londres, 5x1, para empatar em 1x1 da volta em Dublin. Empate este que selou a classificação inglesa à Copa.
Islândia, França e Bélgica disputavam uma vaga no segundo grupo. Como era esperado, a Islândia foi terrível. Perdeu todas tomando incríveis 26 gols - uma média de 6,5 gols tomados por jogo. A França, que além do franco-polonês Cisowski se mostrar um artilheiro nato, contava com Piantoni, Kopa e Fontaine. Na estreia, venceu a Bélgica por 6x3, 5 gols de Cisowski. Faz 8x0 e 5x1 na Islândia. Como a Bélgica também venceu os dois jogos contra a Islândia, ainda não estava definido. Os franceses, com 6 pontos, contra 4 pontos dos belgas. Com uma simples vitória em Bruxelas, a Bélgica levava a França para o desempate pela vaga. Porém, os franceses conseguem segurar o ímpeto dos belgas e se classificam depois de um 0x0.
Agora já não com critérios político-ideológicos, caem no mesmo grupo Hungria, Bulgária e Noruega. A Hungria, que havia encantado o mundo na Copa de 1954 não era a mesma. Boa parte dos jogadores da seleção que foi vice-campeão era do Honvéd, de Budapeste. O Honved, campeão do Campeonato Húngaro de 1955, se classificou para a Copa Europeia de 1956-57 (atual liga dos campeões), enfrentou o Athletic de Bilbao na primeira fase, perdendo por 3x2. Antes de voltar para casa, explode a Revolução Húngara. Um movimento húngaro por reformas no regime vigente e crítico aos desmandos soviéticos no país. Os soviéticos, governados na época por Nikita Khrushchev, mandam tropas para a Hungria e reprimem o movimento. Com isto, os atletas do Honved decidiram não voltar à Hungria, e jogaram o jogo de volta em Bruxelas, perdendo por 3x2 novamente. E agora? Ficaram dois anos fazendo amistosos pelo mundo para se sustentarem. Kocsis e Czibor rumam para o Barcelona. Púskas para o Real Madri. Hidegkuti e Bozsik decidem voltar e não são considerados traidores enquanto Puskas, Kocsis e Czibor são. São banidos do país e devido a fortíssima ligação entre política e futebol na Hungria, nunca mais foram convocados para a seleção, passando décadas sem nem voltar ao país natal. Com isto, a Hungria havia perdido grande parte do seu poder. Com isto, começa a ter mais espaço um que depois seria lembrado como um dos grandes jogadores húngaros: Lajos Tichy.
No primeiro turno, a Noruega joga as duas em casa. Perde por 2x1 para os búlgaros e vence pelo mesmo placar os húngaros (com o gol de honra húngaro sendo marcado por Tichy). No confronto em Budapeste, Ferenc Machos dá show, marca 3 gols e a Hungria vence por 4x1. Até então o grupo está muito equilibrado, com todos os times empatados com 2 pontos. No primeiro jogo do returno, em Sofia, capital búlgara, a Hungria vence por 2 gols de Hidegkuti e se isola. Novamente em Sofia, a Bulgária desta vez vence a Noruega por 7x0 e empata em pontos com os húngaros. Em 10 de novembro de 1957, os húngaros entram em campo em Budapeste contra a Noruega, precisando de apenas um empate para confirmar a vaga. Fazem 5x0 e estão classificados.
Tchecoslováquia, País de Gales e Alemanha Oriental fazem parte do quarto grupo. Gales começa jogando 3 jogos seguidos, uma vitória contra a Tchecoslováquia em Cardiff e duas derrotas fora. Após estes jogos, os tchecoslovacos vencem os alemães orientais por 3x1. Os alemães orientais também perdem por 4x1 para País de Gales, sendo eliminados. Em Leipzig, Alemanha Oriental, os germânicos também perdem para a Tchecoslováquia, que é classificada com esse resultado.
 O quinto grupo é formado por Áustria, Holanda e Luxemburgo. Este último estreia perdendo tanto para Áustria como para Holanda. Os austríacos vencem os holandeses em Viena por 3x2 num jogaço, que foi para o intervalo com 2x0 para os holandeses e teve gol de desempate aos 44 do segundo tempo. No jogo de volta, em Amsterdã, os países empatam em 0x0, sobrando para a Áustria a classificação com empate ou vitória contra Luxemburgo. E o eterno saco de pancadas dos europeus toma 3x0 dos austríacos, classificando os mesmos para a fase final da Copa.
No sexto grupo, que continha URSS, Polônia e Finlândia, foi necessário um desempate. A Finlândia perdeu todos os jogos, inclusive tomando 10x0 em casa dos soviéticos. Como houve empate em pontos de URSS e Polônia, partiram para um jogo desempate em Leipzig, na Alemanha Oriental. Strelstov e Fedosov marcaram os dois gols da vitória soviética, classificando o país à fase final da Copa.
Seguindo o padrão de dois clubes do bloco soviético e um de fora o grupo, o sétimo grupo contava com Iugoslávia, Romênia e Grécia. Os helênicos, que estrearam com um empate contra a Iugoslávia em casa, perderam todos os jogos em seguida e não apresentaram perigo. A verdadeira disputa seria entre Romênia e Iugoslávia. No turno, empatam por 1x1 em Bucareste. Como a Iugoslávia havia empatado com Grécia e Romênia havia ganho as duas, os romenos foram com a vantagem do empate para o confronto final. 17 de novembro de 1957, em Belgrado, a Iugoslávia, precisando vencer, enfrenta a Romênia valendo a vaga do grupo. Com dois gols de Milutinovic, os balcânicos passam de fase e a torcida local faz a festa.
O oitavo grupo contou com um dos jogos mais marcantes da história das eliminatórios. Os membros do grupo eram Portugal, Itália e Irlanda do Norte. Os irlandeses, de Danny Blanchflower começam mal, com empate em 1x1 com os lusos e uma derrota por 1x0 para os italianos. Na volta, fazem 3x0 em Portugal em Belfast, placar repetido em Portugal x Itália em Lisboa. Portugal, tal qual Irlanda do Norte, tinham 3 pontos, contra 2 dos italianos. No dia 4 de dezembro ocorre um jogo histórico: Irlanda do Norte x Itália, em Belfast. O árbitro, um húngaro chamado Istvan Zolt, vinha de Londres para Belfast, porém a constante neblina na capital britânica impediu que ele chegasse a tempo. Com isto, o jogo era adiado.
Mas quem tá na chuva é pra se molhar, certo? Os dois times decidiram jogar mesmo assim, porém como um amistoso, sem valor algum. O jogo termina num 2x2 em que jogadores italianos foram muito violentos. Isto, aliado ao stress causado pelo atraso do jogo, fez com que a torcida invadisse o campo. O jogo é até hoje conhecido como a Batalha de Belfast. A Itália devolve os 3x0 dos portugueses, eliminando-os e ficando líder, com 4 pontos contra 3 dos irlandeses. Porém, não se deve esquecer que havia o jogo remarcado. Em 15 de janeiro de 1958, os norte-irlandeses vencem os italianos por 2x1 (com o gol de honra italiano sendo marcado pelo ítalo-brasileiro Dino da Costa, de breve sucesso no Botafogo) e se classificam. Até hoje, foi a única vez que a Itália não se classificou para a Copa.
Eram 9 grupos de times europeus. O nono e último era de Espanha, Escócia e Suíça. A Suíça, que contava com Hügi, não foi bem e conseguiu apenas um ponto, referente a um empate com a Espanha em Madri. Os espanhóis, que tinham em seu elenco Kubala, Luis Suárez e Di Stéfano, vencem o jogo de volta contra a Suíça (que seria o último do grupo, não valendo nada) e perdem uma das partidas contra a Escócia, que vence a outra. Como a Escócia havia vencido a Suíça na ida, a sua vitória contra os suíços na volta já significou a sua classificação.
Começo então a escrever sobre as eliminatórias sulamericanas. O grupo 1 continha Brasil, Venezuela (que desistira antes de jogar) e Peru, Com um empate em Lima e uma vitória pelo placar mínimo com gol do Príncipe Etíope Didi, o Brasil garantia a sua vaga.
O segundo grupo sulamericano tinha Argentina, Bolívia e Chile. Este último estrearia com vitória: sua única neste mundial. Bolívia e Argentina venceram duas partidas cada uma e foram para o último jogo, em Buenos Aires, valendo a vaga. Goleada argentina por 4x0, que ficou com a vaga.
Já o terceiro e último grupo dos sulamericanos tinha Uruguai, Colômbia e Paraguai. A Colômbia estreia com empate em casa contra o Uruguai (que ainda continha Míguez, campeão da Copa de 1950). Seria seu único ponto, pois perdeu todos os outros jogos. Este ponto conquistado pelos colombianos - na verdade o ponto uruguaio roubado com o empate - faria toda a diferença. O Uruguai passou de fase com 6 pontos, contra 5 do Uruguai, que foi eliminado.
As eliminatórias centro e norte americanas tinham outro formato. Dois grupos: o grupo 1, com México, EUA e Canadá e o grupo 2, com Costa Rica, Guatemala e o Território de Curaçao (parte da Holanda). No primeiro grupo, o México ganhou com muita folga: 4 vitórias em 4 jogos, 18 gols pró e 2 gols contra. O pior foi os EUA, perdendo todos os jogos e tomando 21 gols. O Canadá perdeu os dois conta o México e ganhou os dois dos EUA, ficando no meio da tabela. No segundo grupo ocorrem alguns fatos curiosos. A Costa Rica ganhou com folga, mas é de se destacar que no seu segundo jogo contra a Guatemala, os guatemaltecos, então perdendo por 3x1, abandonaram o campo. O último jogo, Território de Curaçao x Guatemala não aconteceu pois os jogadores guatemaltecas não ganharam o visto para poder jogar o jogo em território então holandês. No entanto, o jogo seria apenas para cumprir tabela. Os campeões de cada grupo jogaram duas finais entre si. A ida vencida pelo México por 2x0 e a volta empatada em 1x1, com a vaga conquistada pelos mexicanos.
Há apenas mais uma vaga para ser disputada: a da África e Ásia. Começa na rodada preliminar. República da China (Taiwan) x Indonésia. Os taiwaneses desistem e a Indonésia parte para o grupo 1, com Austrália e China continental (conhecida somente como China). Os australianos desistem. Já os indonésios, liderados tecnicamente por Rusli Ramang, vencem a ida contra os chineses por 2x0, perdem por 4x3 na volta em Pequim e partem para um jogo desempate, em Rangoom. na Birmânia (atual Myanmar). Empatam em 0x0, com a Indonésia passando por melhor goal average. O grupo 2 continha Israel e Turquia. Os turcos se recusaram jogar com os países asiáticos, e com isto Israel passa. O Grupo 3 tinha Egito e Chipre, Chipre se retira e Egito passa. Já no quarto grupo, não há desistência. Sudão e Síria se enfrentam primeiro em Cartum e na volta em Damasco. Vitória sudanesa por 1x0 e 1x1 em Damasco - os dois gols do país africano foram de El Din Osman.
A segunda fase das eliminatórias asiática conta com o campeão de cada grupo, ou seja, Indonésia, Egito, Sudão e Israel. Egito e Indonésia, países de maioria muçulmana, por solidariedade à causa palestina, se recusam a jogar com Israel. A Indonésia diz até aceitar, mas somente se em campo neutro, pedido não atendido, com Israel e Sudão classificados para a terceira e última fase. O Sudão então se recusa a enfrentar Israel, que seria a qualificada. Mas espera aí: lembra que a FIFA dizia que todo país tinha que ao menos enfrentar algum time? Os israelenses não enfrentaram ninguém, portanto foi decidido o seguinte: foi sorteado um segundo colocado de algum grupo das eliminatórias europeias para enfrentar Israel em ida e volta. A Bélgica, sorteada, prefere não jogar, sobra para País de Gales vencer os asiáticos por 2x0 duas vezes - em Tel Aviv e em Cardiff.
Com tudo isto, os classificados são Argentina, Áustria, Brasil, Tchecoslováquia, Inglaterra, França, Hungria, México, Irlanda do Norte, Paraguai, Suécia, Escócia, URSS, País de Gales (única vez que as 4 nações constituintes do Reino Unido jogaram a fase final da Copa), Alemanha Ocidental e Iugoslávia. 55 inscrições foram feitas. 2 foram rejeitadas (Etiópia e Coréia do Sul). 5 times desistiram (Venezuela, Taiwan, Chipre, Egito e Turquia). 46 times jogaram pelo menos uma partida. 89 partidas foram jogadas e 341 gols feitos, uma média de 3,83 gols por jogo. Foi a primeira vez que Argentina, Bolívia, Canadá, China, Costa Rica, Antilhas Holandesas, Chipre, Dinamarca, Alemanha Ocidental, Alemanha Oriental, Guatemala, Islândia, Indonésia, Peru, União Soviética, Sudão e Uruguai disputaram algum jogo de eliminatórias.

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