terça-feira, 3 de março de 2015

Jogadores soviéticos e suas origens

     A finada União Soviética era formada por um grande grupo de países hoje independentes, sendo eles: Rússia, Cazaquistão, Usbequistão, Turcomenistão, Tajiquistão, Quirguistão, Geórgia, Armênia, Azerbaijão, Moldávia, Bielorússia, Ucrânia, Letônia, Lituânia e Estônia. Enquanto as 3 últimas foram anexadas na Segunda Guerra Mundial, o resto se juntou durante a Revolução Russa, em 1917, e logo depois. Tinha mais de 22 milhões quilômetros quadrados, segundo um dos maiores países da história, só atrás do Império Russo em certa época, do Império Mongol sob Genghis Khan e do Império Britânico sob a época da Rainha Vitória. Após a Segunda Guerra Mundial se torna uma superpotência, disputando controle do globo com os EUA na chamada Guerra Fria.
    Após décadas de Guerra Fria, sua dissolução começou no fim da década de 80 e no começo da década de 90. O primeiro país a declarar e conseguir independência da URSS foi a Estônia, em agosto de 1991, seguida pelas outras repúblicas bálticas (Lituânia e Letônia). Nos próximos meses outros países também conseguiram independência, com a URSS acabando oficialmente no dia 31 de dezembro de 1991.
    Só houve interesse tardio pelo futebol na URSS, com a mesma só disputando eliminatórias para a Copa do Mundo em 1958 - conseguindo a classificação. Sua composição de origem era a seguinte:


     Como é facilmente percebido, era praticamente uma seleção russa, com apenas 2 jogadores de fora da mesma. Seus destaques eram o atacante Igor Netto (que também jogou de meia e defensor durante a carreira) e o lendário goleiro Yashin, talvez o maior da história do futebol. Reza a lenda que Yashin teria defendido 150 pênaltis na carreira. Na Copa, cai num grupo forte, com o Brasil de Pelé e Garrincha, a Inglaterra de Tom Finney, Billy Wright, Bobby Charlton e o futuro técnico da seleção inglesa, Bobby Robson (ainda jogador), além da Áustria, que não conseguiu manter um time do mesmo nível que em 1954.
      A URSS estreia com um amargo empate em 2x2 com a Inglaterra, após sair de uma vitória por 2x0. Enfrenta a Áustria e consegue uma vitória por 2x0, perdendo pelo mesmo placar para o Brasil. Empatada com a Inglaterra, vence a mesmo no play-off por 1x0. Nas quartas enfrenta a anfitriã Suécia de Gren, Liedholm, Simonsson e Skoglund. Perde por 2x0 com um gol de Simonsson no final e está eliminada da competição.
     Em 1962 consegue de novo a classificação, porém desta vez com um time mais equilibrado:


    É notada uma grande presença de ucranianos - que seria comum no resto dos anos de URSS - e uma quantia considerável de georgianos. Essas duas nacionalidades, junto com os russos, eram indiscutivelmente a base da seleção soviética ao longo das décadas. Os principais jogadores do time eram, além de Yashin e Igor Netto, o atacante Valentin Ivanov, que se tornaria um dos artilheiros da Copa.
     Já na disputa, fica no mesmo grupo que a Colômbia, o Uruguai de Pedro Rocha e Luis Cubilla a Iugoslávia do futuro artilheiro da copa Jerkovic. Vence a Iugoslávia na estreia por 2x0, para então um histórico e bizarro empate com a Colômbia por 4x4, em que a Colômbia marcou (o único) gol olímpico (isto é, diretamente de um escanteio) da história das Copas. O último jogo da fase de grupos foi uma viória sobre o Uruguai por 2x1, com gol de Ivanov aos 44 do segundo tempo. Vale frisar que a equipe soviética se classificaria mesmo com o empate. Nas quartas, enfrenta novamente o anfitrião - desta vez o Chile. O destaque do time sul-americano era Leonel Sanchéz, que também foi um dos artilheiros. O atacante marcou o primeiro gol da vitória chilena por 2x1, acabando a trajetória soviética no mundial.
     A próxima Copa, em 1966, foi a melhor da história da URSS. Conseguiu um honroso quarto lugar, com os jogadores das origens seguintes:


     Esta foi a mais equilibrada - quanto a origens - seleção soviética, com "apenas" 68,18% dos jogadores russos e ucranianos. Tendo em seu elenco ainda Yashin e Igor Chislenko, atacante de muito sucesso pelo Dinamo Moscou, começou caindo no grupo de Itália, que tinha em seu plantel grandes jogadores como a dupla de laterais Facchetti e Burgnich, além de Gianni Rivera e Sandro Mazzola (filho do Mazzola que era o cérebro do Torino da década de 40), o Chile, que além de Leonal Sánchez tinha um jovem zagueiro que depois partiria para o sucesso no futebol brasileiro, Don Elias Figueroa e a Coréia do Norte, uma azarona de quem não esperava-se nada. Estreia goleando a Coréia do Norte por 3x0, vence a Itália por 1x0 e o Chile por 2x1, com Porkujan desempatando aos 40 do segundo tempo. Nas quartas pega a Hungria de Albert e Tichy e consegue uma vitória por 2x1. Já nas semis, perde por 2x1 para a Alemanha Ocidental, com Beckenbauer marcando para os germânicos e Porkujan - que seria o marcador de 4 gols na Copa - marcando o gol de honra soviético. Empatava com Portugal por 1x1 na decisão de terceiro lugar, até Torres desempatar a partida para os lusos aos 44 do segundo tempo, dando assim o quarto lugar para os soviéticos.
     

     Formada somente de russos, ucranianos e georgianos, a seleção de Byshovets e que ainda contava com Yashin, em sua quarta Copa - porém desta vez no banco - conseguiu a segunda melhor classificação soviética na história das Copas, um quinto lugar. Caiu num grupo fácil, enfrentando o México, a seleção de El Salvador e da Bélgica - que contava com Van Himst. Começa empatando com o México - então anfitrião - por 0x0, para depois golear El Salvador por 4x1 e vencer a Bélgica por 2x0 - com Byshovets marcando dois gols em cada um desses jogos. Nas quartas teve o azar de enfrentar o forte Uruguai, que contava com Luis Cubilla, Pedro Rocha, o goleiro Corbo na reserva, o zagueiro Ancheta de titular, junto com o histórico e excelente goleiro Ladislao Mazurkiewicz.
     Em 1974 a URSS se classifica para o playoff da eliminatória da Copa. Enfrenataria o Chile, na época comandado politicamente pelo gal. Augusto Pinochet, ditador ideologicamente contrário a URSS. Devido ao confronto contra o Chile ser no Estádio Nacional de Santiago - onde haviam muitos presos políticos e morte de opositores - a URSS desistiu de enfrentá-los e assim cedeu sua vaga na Copa. Em 1978, vivendo uma crise no futebol, não consegue se classificar num grupo que continha Hungria e Grécia. Já em 1982, a classificação veio. A origem de seus jogadores era a seguinte:


      Nota se uma inversão: pela primeira vez, o número de jogadores ucranianos passa o de russos e passa a ser maioria. Com uma seleção completamente renovada em relação a sua última participação, contava com o goleiro Dasayev e com o atacante Blokhin - que talvez seja o melhor jogador de linha da história da URSS. Na Copa, caiu no grupo da Nova Zelândia, da Escócia de Souness, Dalglish, Robertson e Joe Jordan e o time que talvez seja o maior esquadrão da história do futebol: o Brasil de 1982, que tinha um meio campo com só craques como Falcão, Toninho Cerezo, Zico e Sócrates. O primeiro jogo é justamente contra o Brasil. Sai na frente com um gol de Bal, num frango de Walder Peres, em jogo que Sócrates e Éder virariam o placar para o Brasil. É seguido por uma vitória por 3x0 contra a fraca Nova Zelândia e um emocionante empate em 2x2 com a Escócia, com a URSS fazendo 2x1 aos 39 dos segundo tempo e a Escócia empatando com Souness aos 42. Com os resultados, a URSS se classifica para a segunda fase de grupos. Cai no mesmo grupo que a Bélgica de Pfaff, Ceulemans e Van der Elst além da fabulosa Polônia, que contava com Zmuda, Smolarek, Szarmach, Lato e Boniek. Tanto a URSS quanto a Polônia vencem a Bélgica, porém a Polônia vpor 3x0, com show e 3 gols de Boniek, enquanto a URSS vence pelo placar mínimo. Com isto, a URSS tinha que vencer a Polônia para ir à fase semifinal, no entanto empata sem gols e está eliminada.
      Em 1986 é semelhante quanto a origem quanto ao fato de ter mais jogadores ucranianos que russos:


     Aliás, a diferença entre o número de jogadores russos e ucranianos mais que dobra, havendo uma ucranização muito forte da seleção. Tendo no seu elenco Dasayev, Bal, Blokhin, Protasov e até Igor Belanov, que no mesmo ano seria escolhido melhor jogador da Europa, decepciona quanto a classificação. Cai num grupo relativamente fácil: Canadá, Hungria - que não era nem sombra do time de 54 e a excelente França de Platini. Goleia a Hungria por impiedosos 6x0, empata em 1x1 com a França e no último jogo vence o Canadá sem dificuldade, por 2x0, garantindo o primeiro lugar no grupo. Nas oitavas enfrenta a Bélgica que vinha reforçada com Scifo, sendo este um dos melhores jogos da história da Bélgica. Belanov abre o placar para a URSS no primeiro tempo. Aos 11 do segundo, Scifo empata. aos 25, Belanov faz 2x1. Aos 32, Ceulemans empata novamente. Com o empate, o jogo vai à prorrogação. Aos 12 do primeiro tempo da prorrogação, a Bélgica faz e se coloca na frente. Aos 5 dos segundo tempo, Claesen faz o quarto da Bélgica. Porém, um minuto depois, Belanov novamente marca e bota fogo no jogo, que acaba assim mesmo, 4x3 para os belgas e fim de papo.
     Na altura da Copa de 90, já se tinha ideia que seria a última jogada pela URSS, o país vinha perdendo a unidade e não havia estabilidade, os dias estavam contados. 


     A origem dos jogadores era parecida com a da Copa anterior, mas com menos ucranianos e mais pessoas de países menores, como Geórgia e Bielorússia. Na Copa caiu num grupo muito difícil. Camarões de Roger Milla, Romênia de Haghi e a então campeã do mundo Argentina com Maradona, Caniggia, Burruchaga, Ruggeri e mais outros grandes jogadores. Os soviéticos estrearam perdendo por 2x0 para a Romênia, depois novamente com o mesmo placar para a Argentina. Já eliminada, enfrenta Camarões, último jogo da URSS na história das Copas. Aplica sonoros 4x0, num amistoso de luxo, com Dobrovolski marcando o último gol da nação na história das Copas.
     Juntando todas as participações no torneio, temos a seguinte estrutura originária dos jogadores soviéticos:


     Russos e ucranianos dominam a lista, com mais de 80% dos convocados. Somando aí os georgianos, temos mais de 91%. O resto se divide em números muito parecidos, com destaques para 2 convocados alemães - e nenhum das muitas outras ex-república soviéticas.

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