segunda-feira, 2 de março de 2015

Jogadores tchecoslovacos e suas origens

     Na mesma linha da postagem anterior, agora a origens dos jogadores tchecoslovacos em Copas do Mundo. Fundada em 1918, pela união do Reino da Boêmia e parte do finado Império Austro-Húngaro, a Tchecoslováquia engloabava territórios de vários países, entre eles Polônia, Hungria, República Tcheca e Eslováquia. Durante a Segunda Guerra Mundial foi anexada pela Alemanha e dividida em várias partes, que são: a Cárpato-Ucrânia (hoje território ucraniano), uma parte, conhecida como os Sudetos, onde havia muita população alemã, foi anexada pela Alemanha Nazista, na República Eslovaca (hoje parte da Eslováquia e Polônia), um Estado fantoche alemão comandado pelo Monsenhor Tiso e no protetorado da Boêmia e Morávia, que era comandado pela Alemanha.
     Após o fim da guerra e sua reunificação, uma pequena parte é ocupada pelo Exército Vermelho (URSS) e virada parte de República Socialista da Ucrânia, enquanto 3 anos depois, em 1948, há um golpe comunista e o resto do país vira República Socialista da Tchecoslováquia. Em 1968 é transformada numa confederação como consequência da Primavaera de Praga, sendo que as duas repúblicas em que foi dividida (República Tcheca e Eslováquia) correspondem aos países modernos com o mesmo nome. Em 1992, após a queda do comunismo, ocorre a divisão em dois países separados.
     Porém, desde 1918, sendo um único país, a seleção continha tanto jogadores tchecos como eslovacos. O que veremos nessa postagem é em que proporção eram. Começando pela Copa do Mundo de 1934.
    Jogando sua primeira Copa do Mundo, o começo é excepcional. Tendo em seu elenco o excelente goleiro Planicka e os grandes Puc e Nejedly (que seria artilheiro da Copa), começa com uma vitória de virada por 2x1 contra a Romênia - gols de Puc e Nejedly. Nas quartas, o jogo é contra a Suíça, que sai na frente. A Tchecoslováquia vira a partida, sofre o empate e aos 37 do segundo tempo, Nedejly marca o gol da classificação. O adversário da semifinal era a Alemanha do poderoso Edmund Conen. Vitória tchecoslovaca por 3x1, 3 gols de Nejedly - sempre ele. Na final, o adversário é a Itália de ninguém menos que Giusuppe Meazza. O time do Leste Europeu ainda sai na frente, com gol de Puc, mas aos 36 do segundo tempo Orsi empata para a Itália, que consegue a virada nos acréscimos. Em seu campeonato de estreia, o título não veio por muito. Essa era a composição dos jogadores:


     Como pode ser visto, era praticamente um time tcheco, com apenas alguns jogadores não o sendo.
     Já na próxima Copa, em 1938, a composição era semelhante:


    Devido a falta de dados, não foi possível achar o local de nascimento de grande parte dos jogadores, porém ainda sim é notado um predomínio absoluto de tchecos. O primeiro time enfrentado é a Holanda - até então uma nanica do futebol mundial. Após um empate por 0x0 no tempo normal, consegue fazer acachapantes 3x0 na prorrogação para enfrentar o Brasil nas quartas de final. Contra o escrete canarinho consegue um empate por 1x1, com Leônidas marcando para os brasileiros e Nejedly salvando o time europeu. Na revanche (não havia disputa por pênaltis na época), a Tchecoslováquia até sai na frente, porém, novamente com gol de Leônidas da Silva, o Brasil vira a partida e avança para as semifinais para enfrentar a Itália - que venceria e acabaria sendo a bicampeã do torneio.
     Não jogou as eliminatórios para a Copa de 1950, no Brasil, portando não se classificou. Porém, em 1954 estava de volta. Agora sem estrelas, cai num grupo mais difícil, com Escócia, Uruguai - de Míguez, Santamaria, Schiaffino, Andrade e Obdulio Varela e Áustria - de Ernst Happel, futuro técnico de muito sucesso, Wagner e os grandes Ocwir e Probst, este que acabaria vice-artilheiro da Copa, com um hat trick marcado sobre a Tchecoslováquia - que perderia o outro jogo para o Uruguaio, por 2x0, e se despediria da Copa sem marcar gols.


     Sobre os jogadores destas copas são há muita informação, sendo que muitos o local de nascimento é desconhecido, porém já começa a se notar um grande aumento do número de eslovacos.
     Agora na Copa de 1958, a primeira ganha pelo Brasil, o elenco já apresenta jogadores que se tornariam importantíssimos e respeitados, como Schrojf, Popluhár, Pluskal, Scherer (que foi reserva) e o grande craque Masopust. Caiu num grupo com a Alemanha Ocidental de Rahn, Seeler e o gênio da bola Fritz Walter, com a Irlanda do Norte - que seria uma surpresa e com a Argentina que contava com dois jogadores do lendário time do River Plate da segunda metade da década de 40 - Amadeo Carrizo e Angel Labruna. Começou com uma derrota por 1x0 para a Irlanda do Norte, para depois empatar em 2x2 com a Alemanha Ocidental (após estar vencendo por 2x0) e uma goleada impiedosa de 6x1 sobre a Argentina. Empatou em pontos com a Irlanda do Norte e disputou um jogo playoff contra ela (na época não havia classificação por saldo de gols, que hoje beneficiaria a Tchecoslováquia), perdendo por 2x1 de virada. Um dos destaques do time foi Zikán, que marcou 4 gols na competição. Sua composição era, como vemos, mais equilibrada:


    Ainda havia um número muito grandes de jogadores de origem desconhecida - ainda que um tanto menor - fato este que atrapalha real mensuração da origem dos jogadores. Porém, pode ser notado, tal qual em 1954, um número elevado de atletas eslovacos.
    1962 - Foi o ano da glória para a Tchecoslováquia. Ficou no grupo 3, com o Brasil de Pelé (que se lesionou e quase não jogou), Garrincha e cia., o México do goleiro Carbajal (que é até hoje um dos 3 únicos jogadores a jogar 5 Copas do Mundo, junto com o alemão Matthaus e o italiano Buffon) e a Espanha, que contava com vários grandes jogadores - muitos naturalizados - como Gento, Puskás, Di Stéfano, Santamaría e Luis Suárez, porém todos já em idade mais avanaçada, não rendendo tanto, tendo isso como resultado a Espanha ocupar a lanterna do grupo. Após se classificar aos trancos e barrancos - vitória sobre a Espanha, empate com o Brasil e derrota para o México - a Tchecoslováquia enfrenta a Hungria nas quartas da final, que apesar de não ser a mesma de 54, contava com bons nomes como Tichy, Albert e o goleiro remanescente dos Magiares Mágicos Grosics. Vitória apertada por 1x0, gol de Scherer. Então enfrentaria a Iugoslávia, que tinha em seu elenco Jerkovic, que seria um dos 6 artilheiros da Copa, com 4 gols. Vitória difícil por 3x1. Até os 35 minutos no segundo tempo o jogo estava 1x1, até Scherer desencantar e fazer dois gols para garantir a classificação. A final era contra o poderoso Brasil, que apesar de estar desfalcado de Pelé (que fora substituído por Amarildo), vinha com Garrincha numa fase estrondorosa. Com apenas 15 minutos de jogo, o maestro tchecolovaco Masopust abre o placar, jogando a responsabilidade para cima do Brasil, que dois minutos depois conseguiu empatar com Amarildo. No segundo tempo, Zito faz o segundo do Brasil e Vavá o terceiro, para acalmar a seleção brasileira, acabando com o sonho tchecoslovaco de título - pela segunda vez.


     Com um número quase igual de eslovacos e tchecos, esta foi a melhor participação tchecoslovaca em copas.
     Em 1966 cai no grupo de Portugal de Eusébio nas eliminatórias e não consegue a classificação, porém em 1970 está de volta à Copa.



    Neste ano se nota algo inverso das primeiras seleções a classificaram para copas: há um grande domínio eslovaco em vez de tcheco. Com um grupo mais modesto, fez campanha ruim. Caindo no grupo do fabuloso Brasil de 70 (sendo goleado por 4x1 pelo mesmo), da então campeã mundial Inglaterra, que ainda contava com Banks, Moore e Charlton e da Romênia, perde todos os jogos e fica na lanterna.
    Nas eliminatórias para a Copa de 1974, cai no grupo da Escócia de Joe Jordan, Dalglish, Denis Law e Billy Bremner e não consegue a classificação. Em 1978, também não consegue se classificar, caindo novamente para a mesma Escócia, que apesar da ausência de Law, compensava com Gemmil, Souness e Robertson. Em 1982 porém a Tchecoslováquia está de volta. Ficou num grupo forte, que apesar da fragilidade do Kuwait, compensava com a força da Inglaterra do craque Kevin Keegan e principalmente da França de Rochteau, de Tigana e do fabuloso Michel Platini. Após empate com Kuwait e França e derrota para Inglaterra, fica fora da segunda fase. Sua composição era um tanto diferente da de 1982:



    A coisa se inverte: há novamente um domínio de tchecos, lembrando as primeiras copas, porém desta vez com um número considerável de eslovacos.
     Em 1986, não conseguiu se classificar, ficando atrás de Portugal de Paulo Futre da Alemanha Ocidental de Rummenigge nas eliminatórios. Já em 1990, conseguiu sim, tendo como destaque Skuhravý. Ficou num grupo meio complicado, com a Áustria, os EUA de Kasey Keller, Tab Ramos e Tony Meola e a Itália de Zenga, Baresi, Maldini, Mancini, Donadoni e o então reserva e improvável futuro artilheiro da Copa, Salvatore (Toto) Schillaci. Após conseguir uma goleada por 5x1 contra os EUA (com dois gols de Skuhravý) e uma vitória pelo placar mínimo contra a Áustria, entra na última rodada, contra a Itália, já classificada e perde por 2x0. Nas oitavas enfrenta Costa Rica do goleiro Conejo e do brasileiro naturalizado Alexandre Guimarães. Goleia impiedosamente por 4x1, com hat trick de Skuhravý. Nas quartas, enfrenta a poderosa Alemanha Ocidental e é derrotada pelo placar mínimo, com gol de Matthaus de pênalti. Ali acaba o sonho tchecoslovaco, sendo este o último jogo do país em Copas do Mundo. Sua composição era a mais equilibrada da história, com quase o mesmo número de jogadores da Eslováquia e da República Tcheca, como podemos ver:


     Dois anos depois a Tchecoslováquia acabaria, no chamado Divórcio de Veludo. Somando todas as participações, temos uma tabela assim:


     A maioria absoluta dos jogadores era tcheca, porém ainda sim se notava um número muito grande de eslovacos. Somando eles aos tchecos e aos desconhecidos - a maioria de origem tcheca e eslovaca - temos cerca de 98% dos jogadores. Os outros 2% restantes são jogadores nascidos em outros países do Leste Europeu.

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